Aline Roes Dalmolin 82 tro de cidadãos comuns e pessoas apolíticas, sem tradição de filiação partidária e exercício político na sociedade, mas captu- radas pelo conservadorismo presente no discurso da chamada guerra cultural3. Essas pessoas que, outrora, na era da mídia de massa, ficavam de fora do debate eleitoral agora partici- pam deste processo através do conteúdo que “chega” até elas, interagentes que são mobilizados através dos processos de descirculação. Mais do que enquadramentos no campo político, a compreensão desta esfera passa por um problema comunicacional, que deriva mais da estrutura comunicacional na qual ela se constitui do que propriamente uma questão envolvendo um posicionamento no campo político. Parece-nos interessante a perspectiva de denominar este espectro enquanto “campo opa- co”: uma “estrutura ampla de disseminação de informações, or- ganizada em rede e sem regulação quanto à natureza do conteúdo veiculado, que inclui variadas estratégias de desinformação” (Ratier, 2020, p. 42). Esta opacidade aparente se traduz na chamada “ecologia midiática de direita”, “midiosfera bolsonarista” (Rocha, 2021a; 2021b; Franco, 2022) ou mesmo “midiosfera extremista” (Rocha, 2023). Seja qual for a terminologia associada, esta denominação abarca as plataformas midiáticas específicas utilizadas para a disseminação de informações pelo campo da extrema-di- reita política no Brasil, cujo uso intensivo das redes digitais próprias se articula à recusa de consumir outras fontes de informa- ção, especialmente a mídia tradicional, acusada de “petista” e/ ou alinhada a “interesses esquerdistas da nova ordem mundial”. A midiosfera extremista consiste em um sistema de co- municação estruturado pelo princípio da “guerra cultural”, que dá sustentação ao projeto político de cunho autoritário da extrema-direita brasileira (Rocha, 2023). No entendimento do autor, trata-se 3 “A guerra cultural é uma matriz de produção em série de narrativas polariza- doras cuja radicalização crescente engendra sem trégua inimigos imaginários, mantendo a militância em estado permanente de excitação” (Rocha, 2023, p. 13).
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