Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Aline Roes Dalmolin 86 Figura 2 – Notícias sobre os termos utilizados pelo presidente Bolsonaro Fonte: Estadão (2019) e Veja (2019). Esta dissolução dos sentidos cristalizados expõe o jogo da linguagem aos dissabores da interpretação. O léxico se sujei- ta a uma reconfiguração no âmbito das midiosferas extremistas, nas quais palavras-chave assumem o caráter de palavras de ordem que colocam os sujeitos envolvidos em posições fortemen- te polarizadas. Estas podem estar expressas através de nomes próprios (Marielle Franco, Paulo Freire, Lula), posições (contra armas, a favor do aborto, a favor da corrupção…) ou mesmo de- nominações biopolíticas: mulher, gay, transexual, negro, indíge- na, nordestino, etc. O uso de expressões vulgares e chulas foi consagrado na fala de Olavo de Carvalho, escritor venerado pelos bolsonaris- tas, e tornou-se linguagem recorrente na midiosfera extremista e recurso comum das próprias declarações presidenciais. Fato é que a contagem de palavrões ditos pelo então presidente em uma reunião ministerial televisionada, ocorrida em junho de 2020, tornou-se tópico principal das manchetes que divulgaram o evento. Essa retórica é atravessada por uma constante expressão da função fática, na qual a repetição destas expressões se sobrepõe aos argumentos, muitas vezes apoiadas em imagens relacionadas ao imaginário da guerra cultural. Armas, bandeiras

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