Anatomia da polarização e barbárie comunicacional 87 do Brasil, insígnias e gestualidades militares são exemplos desta expressão incessantemente repercutida no âmbito da midiosfe- ra extremista. Este referencial discursivo e imagético se aciona a partir de um jogo de processualidades, sobre as quais discorreremos a seguir. 3 Nível das processualidades Pena (2019) trabalha a ideia de “agendamento reativo” como estratégia utilizada amplamente pelo governo Bolsonaro, que opera através da mobilização temática da mídia e da opinião pública pelas declarações realizadas no perfil público do próprio presidente da República em suas redes sociais (no caso por ele analisado, especificamente no Twitter). O autor demonstra que o agendamento reativo atua através de uma dupla lógica: quan- tidade de interações e repercussão na imprensa profissional, caracterizando-se pela retroalimentação entre ambas. O autor ilustra a hipótese com o episódio conhecido como “golden sho- wer”, ocorrido no carnaval de 20196, aproximando a estratégia usada pelo então presidente da estratégia de acumulação (McCombs e Shaw, 1977; McCombs, 2009, apud Pena, 2019), que opera através da manutenção da relevância de um tema por sua repetição incessante. Para o autor, trata-se de uma estratégia ativa de agendamento das temáticas a serem debatidas na mídia. Levanto a hipótese de que o conteúdo veiculado por Bolsonaro é estrategicamente produzido para agendar o debate público a partir do confronto direto com os veículos tradicionais de imprensa, levando ao que chamo de agendamento reativo, cujo objetivo é ressignificar conteúdos e desviar o foco de assuntos que ameaçam o presidente (Pena, 2019, p. 1). 6 O episódio destaca-se pela publicação, por parte do então presidente Jair Bol- sonaro, de um tuíte perguntando o que era golden shower, ao veicular um vídeo que retratava a prática, mostrando um homem urinando em outro em um bloco de rua durante o carnaval do Rio de Janeiro. A postagem ocorreu na mesma semana em que a imprensa divulgou uma série de reportagens a respeito de investigações contra o ex-presidente sobre esquemas de corrupção com envolvimento de sua família e assessores, com a clara intenção de desviar o foco do debate público para questões de moralidade (Pena, 2019).
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