Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Anatomia da polarização e barbárie comunicacional 89 qualificada e até eliminada. Franco (2022) destaca que a retórica do ódio é que mantém a coerência da midiosfera de extrema- -direita, sendo esta a linguagem corrente da guerra cultural bol- sonarista, que tem como foco o desejo de eliminação do outro. A fala de Bolsonaro “vamos fuzilar a petralhada”, ova- cionada por seus apoiadores durante a campanha presidencial de 2018 (Ribeiro, 2018), destaca-se como uma das expressões deste desejo de eliminação do adversário, referendada diutur- namente pela midiosfera bolsonarista no nível discursivo, mas que diversas vezes durante o período eleitoral se concretizou em violência física, tendo como alvo inclusive crianças (BandNe- ws, 2022; Portal G1, 2022). A violência política causou a morte de pelo menos 15 pessoas durante as eleições de 2022, cinco delas só no final de semana do segundo turno das eleições (An- jos et alii, 2022). Esta escalada de violência decorreu da intensa polarização dentro do contexto das eleições presidenciais, distanciando-se do contexto do debate político salutar e necessário ao processo democrático. O fenômeno da polarização não deve ser confun- dido com o simples debate de posições contrárias, mesmo veemente. Na polarização não há debate, ou este direciona para a desconexão e para a violência simbólica – que pode, conforme as circunstâncias, chegar à violência física (Braga, 2020, p. 304). O ódio biopolítico, por outro lado, aproxima-se daquilo que Rocha (2021a) caracteriza como elementos da retórica de extrema-direita dentro da midiosfera bolsonarista: a desqualificação nulificadora e a autoproclamação hiperbólica. Conforme o autor, estes elementos foram trabalhados primeiro por Olavo de Carvalho e posteriormente disseminados por seus seguidores. Marco zero da retórica do ódio, gênesis e apoca- lipse da técnica olavista, a desqualificação nulifi- cadora reduz o adversário ideológico num outro tão absoluto que ele passa a se confundir com um puro nada, um ninguém de lugar nenhum. O efei- to é assustador porque autoriza a completa desumanização de todo aquele que não seja espelho

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