Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Circulação e transformações dos discursos jornalísticos 105 uma zona de passagem de uma mensagem (jornalística) de um polo produtivo (A) a outro (B) receptor, na qual o trabalho de fazer emergir a “cena primária” estaria associado apenas à transmissão de signos, que se materializaria em atividade de pu- blicitação segundo acionamento de regras de um determinado sistema produtivo (jornalístico). Ou seja, o discurso informativo seria consequência de um jogo e de regras, derivadas do ponto de vista consciencialista segundo o qual as notícias são aquilo que os jornalistas e a cultura do seu sistema definem como tal. A natureza de um processo comunicacional mais com- plexo somente é reconhecida na medida em que as condições de produção do discurso jornalístico são envoltas em outras articulações que tratariam de situar a circulação além de uma dinâmica transmissional, dotada de uma atividade enquanto elo de intermediação entre produtores e receptores de mensa- gens. Ela seria uma instância que possibilitaria aos meios jor- nalísticos a efetivação de sua vocação mediadora. A circulação apareceria como lugar de produção de contato entre meios e a sociedade, e é nesta esfera que se destaca a vocação mediadora que lhes é atribuída, pois tudo que sabemos acerca do mundo devemos aos meios (LUHMANN, 2005). Giddens (1991) conver - ge com esta perspectiva mediacional ao lembrar a importância desta nova dinâmica como possibilidade de redução da comple- xidade resultante do funcionamento de outros sistemas sociais (GIDDENS, 1991). Tais propriedades especificariam a atividade protagônica do jornalismo como prática social, uma vez que é através de seus dispositivos, como o jornal, que sentidos são preparados por suas estratégias discursivas, contratos de leitu- ra, etc. (MOUILLAUD, 2002). Tais aspectos podem ser particularmente observados, por exemplo, em operações discursivas nas revistas informati- vas através das quais o discurso jornalístico semantiza os pro- cessos de impeachment de Collor (FAUSTO NETO, 1995) e Dilma Rousseff (FAUSTO NETO, 2017), segundo economia discursiva de cada publicação. São apresentadas ao leitor esquemas discur- sivos que explicitam a tarefa mediadora do discurso jornalístico, segundo perspectivas distintas das que foram apregoadas e que circularam por longos anos, segundo as hipóteses desenvolvidas por McCombs (2009), no âmbito da teoria do agendamento.

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