Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Antônio Fausto Neto 106 Nestas condições, indo além de dispositivos que transmitem informações, os mass media jornalísticos pro- põem, através de suas ofertas de “mundos possíveis”, víncu- los com o tecido social, ao se colocarem como uma instância intermediária entre as instituições e a sociedade. São ofertas que destacam o papel do jornalismo na gestão da organiza- ção social, segundo atividade heterorreferente de tematização de questões de diferentes instituições sociais. O ambiente da circulação deixa de ser inóspito, “liso” e apenas de uma “zona de passagem”, para assumir outra configuração, a de “enfei - xar” dinâmicas de práticas discursivas dos polos interacionais. Através de suas conformações se engendrariam configurações da atividade comunicacional, como também através dela se co- produziria a própria intercambialidade dos polos em intera- ção. A circulação despontaria como um lugar de relação e no qual se gestaria a potencialidade da atividade mediacional dos discursos e da própria interdiscursividade, mediante um tra- balho de várias operações. Um dos efeitos destas articulações é o fato das discursividades se colocarem em contato via pro- cessos de empréstimos, apropriações e codeterminações, etc. entre si. Isso se dá quando a cultura midiática e suas práticas discursivas funcionam como “condições de produção” para no- vas discursividades, afetando o funcionamento dos discursos sociais, como, por exemplo, o discurso político. Lembremos que a 1ª campanha eleitoral para a Presidência, pós-ciclo da ditadura, foi organizada e midiatizada segundo regras do dis- curso televisivo (FAUSTO NETO, 1990). Todos os candidatos se apoiaram em interdiscursividades e gêneros, etc. telemidiáti- cos, e a vitória do presidente Collor foi associada à sua perfor- mance no debate final com Lula, na televisão. Posteriormente outro trabalho da circulação se manifesta, quando fragmentos deste debate são editados para serem veiculados pelo Jornal Nacional. As primeiras interpretações sobre resultados elei- torais sustentaram-se na “teoria dos efeitos”, ao destacar a possibilidade de um discurso afetar o resultado das eleições. Tal ponto de vista destacou o trabalho da circulação midiática como uma variável independente, ignorando outras operações que permeariam a atividade da circulação. De acordo com tal perspectiva, ela se restringiria apenas à tarefa de transporte de

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