Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Antônio Fausto Neto 108 sibilidades do que sabemos do mundo. Disputas de sentidos se cruzam, crescentemente, em torno de fundamentos de múltiplas referências midiáticas e de outras naturezas. Uma das primeiras consequências destas articulações complexificantes do proces - so de construção e veiculação do acontecimento é o fato da sua tessitura se fazer menos – e de modo unilateral – nas fronteiras exclusivas do campo jornalístico e, crescentemente, pela arti - culação com lógicas, práticas e operações discursivas de outros campos. Estes viam outrora, nos enquadres dos discursivos mi- diáticos, a possibilidade de tomá-los como empréstimos visando à circulação de acontecimentos relacionada com suas estraté- gias de produção de sentidos. Observa-se na atualidade que uma das possibilidades que os campos encontram para se apoiar na correferência dos discursos midiáticos ocorre pela apropriação das próprias “práticas significantes” midiáticas. Mas não se trata mais de um “empréstimo”, e sim de apropriação que passa a ser integrada à cultura do campo apropriador, especialmente por parte dos seus experts . Não se trata de convivência de coenun- ciações de campos distintos, mas submissão de fundamentos de uma “episteme” determinada à de natureza midiática. Graças à transformação da organização social em uma ambiência cons- tituída por meios, lógicas e operações midiáticas, dimensões da cultura midiática já vão além da circunstância de “condições de produção” para estratégias discursivas de campos diversos. Práticas institucionais diversas se apresentam através de opera- ções midiáticas, enquanto “senha de reconhecimento”. Exemplificando: investigações policiais misturam seus procedimentos com aqueles que emanam das lógicas da mídia. E seus atores, como delegados à frente de inquéritos, valem-se diretamente de habilidades e competências midiáticas para engendrar acontecimentos, cuja enunciação, no entanto, se faz cada vez mais à margem da responsabilidade direta de jornalis- tas. Tanto o processo de apuração como o de produção e de cir- culação de materiais deixam de ser produzidos através de jorna - listas, que são transformados em receptores de orientações e de veiculação de materiais gerados diretamente pelo staff policial (FAUSTO NETO, 2007). Trata-se de procedimentos seminais que vão sendo complexificados, tempos depois, pela atividade interpenetrante

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