Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Circulação e transformações dos discursos jornalísticos 109 de sistemas sociais diversos. Jornalistas que cobrem temas re- lacionados à operação “Lava-Jato” recebem assessoria direta de quadros especializados do staff jurídico, cujo apoio é conside- rado essencial na edição de matérias relacionadas com a inves- tigação. Ao mesmo tempo, experts do campo jurídico realizam cursos intensivos de media training com o objetivo de dominar lógicas e operações da produção midiática a serem tomadas como referências para a midiatização de suas atividades. Ainda em decorrência da “revolução do acesso” que a internet vai pro- duzindo na constituição e no funcionamento da ambiência mi- diatizada, agentes de campos e atores sociais adquirem “letra- mento” midiático, de tal forma que operações de produção e de circulação de mensagem passam a ser geradas fora do domínio específico de ambientes profissionais da comunicação. Porém, a questão do acesso ao ambiente da circulação midiática de men- sagens destaca-se como desafio central para instituições diver - sas, fontes, agentes de campo e os próprios leitores. Trata-se do acesso que vai além dos ambientes até então controlados pelo sistema jornalístico e seus operadores. Mas não apenas do acesso físico, e sim do ingresso de práticas discursivas geradas por outros campos, no próprio ambien- te operado pelos mass media ou por estes controlados. Grupo de pressão, como reclusos do sistema carcerário, utiliza-se de sequestros de jornalistas (transformados sob coação em seus assessores), para aceder ao setting televisivo, visando fazer cir- cular mensagem que denuncia as condições carcerárias do país (FAUSTO NETO, 2006b). O que é destacado deste acontecimento é apenas a circunstância do ato pôr em risco a segurança das ins- tituições midiáticas. Não se faz nenhuma outra leitura sobre as condições de geração e circulação do acontecimento. Não se cha- ma atenção para os efeitos que novas “transações de agendas” têm sobre as condições de produção e de circulação discursiva, especialmente as complexas condições através das quais se dá a circulação do acontecimento (FAUSTO NETO, 2006b). Deslocamentos que envolvem alterações nas rotinas da programação televisiva guardam estratégicos vínculos com a comunidade de receptores. A mudança de jornalistas e de apre- sentadores de TV deslocados para novas funções não é conside- rada apenas uma “rotina interna” da televisão, passando a ser

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz