Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Antônio Fausto Neto 110 submetida a cuidadosos cerimoniais de passagem. Não se trata mais de eventos restritos ao setting televisivo, mas algo que se conecta com o mundo dos telespectadores, considerando-se ní- veis de contatos que o dispositivo televisivo alimenta cotidiana- mente, via oferta de seus contratos de leitura, com seus usuários (FAUSTO NETO, 2013a). Estes deslocamentos que se processam no ambiente interno da produção midiática vão além da fachada do setting televisivo, afetando também a performance de jorna- listas, especialistas, colunistas, etc., se veem presentes em ativi- dades multimodais, deslocados para a atividade circulatória dos discursos. Um conhecido jornalista esportivo, acometido por um câncer, narra, ele mesmo, cotidiana e diuturnamente, o processo de sua doença. Desloca-se entre várias mídias e seções editoriais da empresa onde trabalhava, anunciando que “sou eu mesmo quem noticia o meu tratamento” (FAUSTO NETO, 2011b). Transformações da circulação geram crise em outras rotinas do ambiente jornalístico. O ombudsman , até então consi- derado um personagem central na construção de um protocolo mediador entre jornal e leitores, afasta-se de sua função diante da resistência do jornal emabrir a coluna para interação em tem- po real, via internet, com seus leitores (FAUSTO NETO, 2008b). Trata-se de uma situação típica, na qual a organização jornalís- tica teme injunções da economia e da lógica digitais, cujas ações e estratégias poderiam retirar das práticas jornalísticas o cerne de sua atividade central: tecer o processo de noticiabilidade se- gundo suas próprias lógicas e operações. Efeitos dos complexos feedbacks produzidos pela mi- diatização afetam a ambiência sociocomunicacional. Já não se trata mais da “era dos meios” e de suas práticas representacio- nais enunciando sentidos segundo lógicas permeadas por ex - pectativas tentativamente regulatórias, mas sim de novos agen- ciamentos enunciativos que se dão através de processos discur- sivos que cuidam de acoplar em um cenário outro de circulação as diferentes práticas (midiáticas e não midiáticas). Efeitos desta nova ambiência se manifestam em vários estágios da atividade mediadora do jornalismo, e este campo vê, progressivamente, sua configuração sendo atravessada por cir- cuitos de operações, sendo que muitos deles já são manejados por instituições e atores diversos.

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