Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Circulação e transformações dos discursos jornalísticos 111 Ilustrando a existência de um nicho configurador de uma nova atividade enunciativa, destaca-se o papel de grandes empresas digitais que operam segundo esquemas de interação nos quais instituições midiáticas e atores sociais se tornam com- ponentes de práticas interacionais por elas organizadas, segun- do outros procedimentos de circulação. Nessa nova ambiência, jornais e leitores se tornam clientes de “macroinstituições”, particularmente de suas matri- zes comunicativas (como o Facebook), enquanto grandes em- presas engendram processos interacionais através de “zonas de contatos” que transformariam a arquitetura midiático-infor- mativa e, de modo pontual, a atividade de circulação de men- sagens. São também projetos geradores de processos interacio- nais envoltos em tensões intermídias, como as que envolveram recentemente o Facebook e organizações jornalísticas, quando foi reduzida a presença de páginas destas últimas no ambiente do Facebook, em favorecimento de pessoas físicas. À época, o Facebook divulgou nota explicando que as pesquisas feitas pela rede social apontavam a redução de momentos e de contatos en- tre seus usuários e, com base nisso, anunciou que iria reduzir o espaço concedido às empresas de comunicação em suas páginas (Meio e Mensagem, 2018). De alguma forma, o Facebook estan- ca a presença de mídias institucionais em sua página, desesti- mulando um tipo de interação que valorizaria a circulação de serviços jornalísticos, bem como a opinião de suas instituições, mas algo que geraria menos receita financeira para a instituição. O Facebook recua na promoção das interações entre sistemas de “velhas e novas mídias”, algo modesto para suas ambições que vão além de um lugar mediacional (Meio e Mensagem, 2018). Articulações entre “velhos” e “novos” meios ocorrem através de tensões geradas pela midiatização de aconteci- mentos, evidenciando novas problemáticas resultantes das afetações entre culturas midiáticas e outras culturas institu- cionais. Já no início deste século, matéria jornalística prenun- ciou efeitos das relações de acoplagens entre sistemas jurídi- co e midiático. Destaca imagens da sessão do STF na qual juí- zes fazem uso da intranet para combinar, através de conver- sas eletrônicas, votação de matéria sobre o Mensalão: “Voto combinado na rede – ministros do Supremo especulam sobre

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