Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Antônio Fausto Neto 112 a ligação entre julgamento e sucessão na corte” (O Globo, 23/08/2007). A denúncia aponta marcas de um processo de circulação de mensagens e de negociações no ambiente do STF, fugindo aos âmbitos e limites dos seus rituais e de suas práticas. Ela desencadeia reações de representantes de vários campos sociais, complexificando a circulação do aconteci- mento: “OAB vê cultura do Big Brother; advogados defendem publicação” (FSP, 24/08/2007); “Jobim afirma que a publica - ção de diálogo é inconstitucional” (FSP, 24/08/2007, p. 8). A transcrição dos diálogos e das imagens das conversas entre juízes, por parte de jornais, enseja ainda leituras por parte de vários atores. O ex-presidente do Congresso José Sarney rela - ciona o fato com a transformação do ambiente físico do STF: “Arquitetura destrói privacidade entre os membros da corte” (José Sarney, FSP, 24/08/2009, p. 1). “Jurista-desembargador alega que a imprensa invadiu intimidade” (FSP, 02/09/2007, p. 2). Colunista comenta o fato em artigo, utilizando-se no seu título de construções discursivas que se associam à di- nâmica da circulação: “A invasão do jornalismo”. Salienta que “a relação entre jornalismo e invasão de privacidade é muito mais complexa do que aparenta a intensa discussão [...]. Não há dúvidas de que os diálogos seriam atos privados. Mas não significa que ocorrem em privacidade” (FSP, 26/08/2007, p. 9). O jornalista lança ao debate questão que não consta no rol de opiniões sobre o assunto, enfatizando a singularidade de processos observacionais jornalísticos na construção do acontecimento que se engendra no ambiente da midiatiza- ção e segundo dinâmicas da circulação: “[...] estar próximo de quem fala ao telefone e notado o interesse público do que é dito, noticiá-lo; ou ouvir, de fora de um gabinete, um diálogo de interesse público – são atos de invasão de privacidade ou de função do jornalismo?” (FSP, 26/08/2007, p. 9). Tal registro traz à tona um debate em torno da midiati- zação das instituições e dos seus efeitos, chamando atenção par- ticularmente para a singularidade do exercício da observação jornalística e o papel de seu trabalho enunciativo sobre a relação entre instituições não midiáticas e midiáticas. Marcas de uma nova atividade circulatória, bem como seus efeitos no contexto da midiatização em curso, se

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