Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Circulação e transformações dos discursos jornalísticos 113 dão também nas manifestações de rua ocorridas no Brasil em 2013. Dentre elas, pistas sobre a “dissolução” das formas de observação das mediações jornalísticas, especificamente a sua cobertura sobre as manifestações. Vimos que estas foram gera- das segundo diferentes motivações, mas fortemente articula- das em torno das mídias digitais. Estas funcionaram como uma espécie de grande “manto” na tentativa de abrigar e unificar sentidos em profusão... Este arranjamento tirou de cena outras mediações exercidas por instituições, segundo a expressão dos próprios atores em marcha. Alegaram que elas não poderiam ser reconhecidas nas circunstâncias da passeata levada adian- te, diante da formação de aglomerações nas quais “somos to- dos Facebook”... O processo observacional jornalístico também entra em pane, pois a dinâmica das manifestações não seria captada pelas metodologias de reportagem que cobriam as passeatas: “Temos que mudar o espelho”, grita um editor a um repórter, presente nas ruas, ao acusar a defasagem entre o que se passava nas ruas e as tentativas jornalísticas desenhadas para cobri-las (FAUSTO NETO, 2013b). Ilustrando as irrupções entre as lógicas dos manifestantes e aquelas da cobertura mi- diática, disse um repórter, ao refletir sobre a performance da mídia diante das manifestações: “Elas deram um nó na cabeça dos jornalistas” (FAUSTO NETO, 2013b). As dissoluções das mediações acontecem em aconteci- mentos como as manifestações de rua, mas também na esfera das próprias organizações jornalísticas. Notícias relatam o desa- parecimento do ombudsman na arquitetura editorial-redacional do New York Times . Trata-se de um dos registros mais emble- máticos a simbolizar transformações profundas por que passa o jornalismo, especialmente na sua “economia da circulação”. Não se trata apenas do afastamento de um jornalista do seu posto de trabalho, mas da extinção de um dos níveis do processo de ob - servação de que se valia o jornal para constituir protocolo vin- culante com o leitorado. Ao destituir o mediador, a instituição jornalística estaria abrindo mão de um liame central, colocando no seu lugar estruturas que tratariam de dissolver formas que possibilitariam a presença do leitor em contato qualitativo com o jornal. Ao acabar com o cargo de ombudsman , o jornal planeja inaugurar outras formas de relações (de trabalho) com o leitor,

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