Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Antônio Fausto Neto 116 pelo próprio Intercept, a Folha de S. Paulo e a revista Veja , que se associaram formalmente ao site jornalístico no processo de veiculação dos conteúdos das gravações capturadas. Porém, sua disseminação se expande em várias mídias e outras instituições, na forma de “discurso citado”. O acontecimento é tematizado de modo complexo, na extensa pauta jornalística – de blogs e sites; nas agendas de instituições de vários campos sociais; bem como no próprio âmbito da conversação pública. Segundo estes três registros, expedientes diversos, envolvendo tecnologias e processos editoriais, tratam de gerar acoplamentos entre vários sistemas os quais se encarregam da gênese, gestão e produção do acontecimento, segundo proces- sos de interpenetração reciprocizante em suas práticas de aco- plamentos de discursos. Estes, ao serem dissolvidos e re-enun- ciados pelas/nas fronteiras de campos específicos, ganham, através de operações técnicas, amplitudes no âmbito de circui- tos diversos. As interpenetrações entre práticas sociais diversas – midiáticas e de várias naturezas – se fazem através de cons- truções enunciativas heterôgenas, sendo impossível de se deter o curso da circulação de sentidos. Chamam atenção para o fato de que a gênese do trabalho de construção do acontecimento se enseja, desta feita, fora das fronteiras específicas do campo midiático, mas na conjugação de acoplamentos de autoralidades e de operações que já se encontram no domínio de vários siste- mas sociais, sendo que as expectativas sobre possíveis efeitos de sentidos – por seguirem cursos não sabidos, acionados pela circulação – não podem ser conhecidas previamente. O aconteci- mento ganha, literalmente, horizontes bifurcantes que são per- meados por sentidos diversos e, ao mesmo tempo, imprevistos. Os três acontecimentos apontam para articulações en- tre sistemas sociais diversos, apresentando, porém, marcas de enunciações de um trabalho observacional gerador dos primei- ros relatos operados por atores de sistemas, em termos de pri- meiros estágios da sua circulação. No vazamento sobre o estado de saúde da mulher do ex-presidente, observa-se que a sua cir- culação é enunciada a partir de um operador do campo médico, embora sua produção não resulte de ações formais deste siste- ma. Dissemina-se através de circuitos de produção discursiva mediante especialistas do mesmo campo, levando adiante a ver-

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