Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Antônio Fausto Neto 118 Nada poderiam fazer outras preocupações institucionais visan- do conter a disseminação das mensagens das escutas de vigi- lância, diante da avalanche de mensagens que se capilarizaria, discursivamente, em toda a ambiência social. Ou seja, se formal- mente foram as gravações retiradas dos circuitos, seguiam em frente, na forma de outros textos, dinamizadas por outros siste - mas, atores e redes sociais. Diferentemente dos casos acima refletidos, entende-se que as características da midiatização de gravação de falas de autoridades jurídicas cujo teor foi revelado pelo The Intercept reúne outras pistas interpretativas ao lado de tantas que foram levantadas, alegando, por exemplo, a sua ilegalidade, ou consi - derando inverídico o teor dos seus registros. Se os dois casos anteriores que estavam tensionados por aspectos normativos dos sistemas em que foram engendrados, assim mesmo, segui- ram adiante, ações normativas não poderiam igualmente deter caminhos percorridos pelas mensagens da “Vaza Jato”. E apesar de algumas “retroações” acreditarem poder contê-las, como a prisão de possíveis suspeitos pelo vazamento, seria impossível sustar sentidos em curso. As gravações de falas dos atores jurídi- cos, que estavam sitiadas em uma “zona de sombras”, escapolem das fronteiras do seu universo de produção, ingressam na forma de textos jornalísticos em outros circuitos, segundo acoplagens sistêmicas não desenhadas previamente, ganhando territórios de inúmeras discursividades. Entendemos que o terceiro caso – “Vaza Jato” – recolo- ca uma questão central exposta neste artigo e que diz respeito ao status da mediação jornalística. Ao longo dos relatos aqui de- senvolvidos, vimos que a mediação jornalística sofre injunções de várias naturezas, especialmente aquelas engendradas pelos processos de midiatização em curso, ao afetarem a especificida - de do trabalho do jornalista enquanto um mediador. Chamamos atenção para a natureza de algumas dissoluções suscitadas pela complexificação do processo circulatório. Mas devemos obser - var que a mediação jornalística faz uma outra operação na qual o jornalista aparece não como um receptador de materiais, con- forme afirmam algumas análises. Ou como um ator subordinado a uma maquinaria na qual o seu papel seria apenas o de colo- car entre aspas declarações procedentes de um ou outro lugar.

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