Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Antônio Fausto Neto 120 afetar as condições de enunciação do ato jornalístico. O trabalho tentativo de ‘resgate’ da ‘cena primária’ estaria permeado por entrelaces de suas dinâmicas e tudo faz crer que os efeitos des- tas permitiriam apenas a construção de ‘mundos possíveis’. O ato jornalístico se complexifica diante do processo de midiatização em curso, pois este faz emergir a irrupção de novos protocolos tecnomidiáticos, compartilhados com institui- ções e atores sociais, resultando o surgimento de outros circui- tos de contatos e de manifestações. A produção de acontecimen- tos desloca-se de nichos produtivos, ingressa em territórios da circulação, escapa ao protocolo interno do sistema jornalístico, passando a ser compartilhada por uma diversidade de matrizes sistêmico-institucionais. A revolução do acesso promovida pela inflexão de processos tecnológicos suscita possibilidades de um modelo enunciativo centrado no “eu sozinho”, circunstância em que o indivíduo, apesar dos outros, seria capaz de inventar processos interacionais. Retira-se de alguma forma, do sistema jornalístico e dos seus atores, a singularidade do seu trabalho, apontando que há outros processos em curso e que passam às mãos de outros universos. Seriam tempos de dissoluções das es- truturas intermediárias nas quais práticas mediadoras também seriam afetadas pela existência de rituais interacionais movidos por novas estruturas sociotécnicas que ensejam o aparecimento de dois cenários comunicacionais: o primeiro, constituído por ações dos indivíduos, impulsionados pelas chamadas novas tec- nologias que fazememergir determinadas arquiteturas tecnomi- diáticas. E um segundo cenário constituído por práticas sistêmi- cas, misturando-se umas com as outras, em torno de processos e de acoplamentos que são dinamizados em torno de retroações de complexos feedbacks . O acontecimento resulta, neste caso, de múltiplas intervenções, de lógicas e de racionalidades que se mesclam às injunções de sistemas e suas práticas sociomidiáti- cas, operado através de mediadores “sistêmico-midiáticos”. O acontecimento se faz em circulação. É enunciado em dinâmicas de práticas sociodiscursivas que são engendradas e disseminadas pela atividade circulatória que, a seu turno, não é lisa, mas constituída por insumos de lógicas e gramáticas, regras, discursos de diferentes instituições e saberes. O acontecimento resulta da diferença da relação entre dinâmicas interacionais,

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