Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Circulação e transformações dos discursos jornalísticos 121 culturas das acoplagens sistêmicas, construções discursivas, de interpenetrações e dos seus efeitos. O tema dos efeitos retorna na conclusão deste texto. É impossível não abordá-lo diante de um cenário comunicacio- nal no qual se observa que as intercambialidades de sentidos se manifestam e se disputam em ritmos de lutas e de inevitáveis diferenças, em termos de sentidos. Os efeitos voltam, desta feita em torno de uma nova problemática, a de retroações complexas, e não daquelas concebidas em termos de mecanismos regulató- rios, conforme previa o sistemicismo funcionalista. Vemos que os processos interacionais que se constituem na ambiência da midiatização apontam para transformações estruturais e qua- litativas que envolvem os campos, os novos circuitos e a natu- reza de transformações da atividade mediadora dos jornalistas. Enfatizamos a questão das descontinuidades, enquanto efeitos das interpenetrações entre sistemas, que são, muitas vezes, não capturáveis porque escapam às lógicas causalistas, através das quais são operados os acoplamentos entre sistemas. As descon- tinuidades poderiam ser atribuídas aos efeitos de processos discursivos que não podiam, certamente, ser contemplados, por não se saber o que se passaria, em circuitos cuja produção de sentidos ainda estaria em curso. De tais defasagens emergem novos processos observa- cionais jornalísticos, enquanto atividades de mediação que pos- sibilitam a exteriorização de sentidos que, até então, permane- ciam retidos nas fronteiras das ‘zonas de sombras’, impedidos de serem remetidos para zonas de contato. Os processos de obser- vação cujos conteúdos The Intercept traz à tona através de suas operações colocam em cena – e em discussão – outro modelo de enunciação requalificando a especificidade de uma atividade ob - servacional, distante do ventriloquismo e também das coações de práticas intersistêmicas, de caráter instrumental e regulatórias. Os relatos das ‘conversas privadas’ entre funcionários do mundo judiciário e vazados através de circuitos vão adiante. Os efeitos de seus acoplamentos são, portanto, não sabidos. A “ação comunicativa” chama atenção pelo fato de seus conteúdos viremà tona como fruto de descontinuidades, ou de deslocamen- tos que não são controlados pelo seu processo, bem como pelas lógicas que os engendraram. Algo delas escapa, transcendendo a

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