Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Rita Figueiras 132 SCHULZ, 1999; ESSER; STRÖMBÄCK, 2014; MARCINKOWSKI, 2014; FIGUEIRAS, 2017a). Todavia, este processo não deve ser entendido como um resultado direto do desenvolvimento dos media . Estes são uma condição necessária, mas não suficiente para explicar o processo de mediatização da política. A história da mediatização da política não se explica, assim, pelo desenvol - vimento dos media , mas pelos desenvolvimentos históricos que produziram a possibilidade da mediatização. A mediatização da política faz parte de um processo mais geral em curso nas demo- cracias desenvolvidas e pós-industriais. No processo de modernização das sociedades, a media- tização é uma consequência da complexidade social decorrente da crescente diferenciação funcional de sistemas especializados e autónomos que lutam pela defesa e ampliação dos seus inte- resses (LUHMANN, 1997). Essa especialização produziu, no en - tanto, limitações em cada sistema, tornando-os dependentes da ação de outros para assegurar certas necessidades estruturais. No âmbito do sistema político, a mediatização pode, então, ser entendida como uma reação a uma deficiência estrutural deste sistema, decorrente da sua incapacidade em garantir a atenção pública e em assegurar de modo eficiente a sua própria visibili- dade (THOMPSON, 2005). A visibilidade pública ancorada nas lógicas mediáticas conferiu aos media um poder crescente na re(a)presentação da realidade política. Os media constroem uma determinada realidade política ao usar determinados quadros explicativos (enquadramentos) que são negociados com os atores políticos (interação entre os media e a política) e que impõem uma certa definição da realidade (definição da agenda pública). A capaci- dade dos media influenciarem as atitudes e opiniões públicas é considerável, mesmo que seja sempre difícil encontrar provas claras de uma relação causal entre um determinado estímulo e uma determinada resposta. As regras envolvidas na cobertura política incluem, pelo menos, três sistemas de regularidades interligados (MARCINKOWSKI, 2014, p. 7): regularidades de seleção – esco- lha consciente de eventos, situações e questões –, regularidades de narração – forma de contar as estórias que obedece a uma estrutura sequencial padronizada – e regularidades de inter-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz