Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Discutindo a mediatização da política a partir do caso português 133 pretação – construção padronizada de significados. Os media usam estas rotinas para selecionar e apresentar ao público os assuntos públicos em formatos familiares. Sob tais condições, a comunicação política produzida pelos media frequentemente tem propriedades previsíveis, como o foco em imagens fortes, uma preferência por eventos em vez de estruturas, tal como por pessoas em vez de instituições ou ideias. Os media dão ainda es- pecial atenção a conflitos e desvios da norma e a interpretações da política como uma competição. Estes sistemas de regularidades interligadas permi- tem perspetivar as organizações de notícias no hemisfério norte como uma instituição interorganizacional (ESSER; STRÖMBÄCK, 2014). Isto porque as suas organizações constituintes – que vul- garmente designamos por meios de comunicação, media noti- ciosos ou simplesmente media – são estruturadas da mesma forma, seguem normas comuns do que é considerado um com- portamento profissional adequado, operam em ambientes eco - nómicos e políticos semelhantes e adoptam as mesmas regras básicas sobre o que definem como importante e interessante para ser transformado em notícia. Toril Aalberg et al . (2012) consideram que o interven- cionismo é uma das estratégias primordiais utilizadas pelos jor- nalistas para manterem o controlo sobre a forma como re(a)pre- sentam o mundo político. A principal implicação desta conduta é o enquadramento da realidade política em certos esquemas privilegiados, como os enfoques no «jogo» e na «estratégia». O enquadramento do «jogo» decorre da integração das sondagens de opinião na narrativa jornalística. Refere-se a no- tícias que retratam a política como uma disputa. Centra-se em quem está a ganhar e em quem está a perder as eleições, na ba- talha pela opinião pública (sondagens de opinião, vox pops ) e na luta entre personalidades na política em geral. Por sua vez, o en- quadramento da «estratégia» é uma consequência da deriva in- terpretativa do jornalismo. Este enfoque produz notícias centra- das em interpretações sobre atores políticos ou em motivações para determinadas ações e posições. Interessa-se também pelas estratégias e táticas usadas para alcançar determinados objeti- vos e pelas escolhas veladas a respeito das lideranças, incluindo traços pessoais de carácter.

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