Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Discutindo a mediatização da política a partir do caso português 135 vel (HALLIN; MANCINI, 2004, p. 5). Dan Hallin e Paolo Mancini (2004) identificaram três modelos diferentes de relacionamen - to entre os media e a política nas sociedades ocidentais. O mo- delo pluralista-polarizado descreve os países do sul da Europa (Portugal, Espanha, Itália e Grécia) e define-se por um controle político dos media por atores externos, como partidos políticos e agentes económicos, a fim de obterem influência política. Esta relação também pode ser descrita pela sua natureza clientelar (HALLIN; MANCINI, 2004; FIGUEIRAS, 2017b). Estas características estão de acordo com o que Gianpietro Mazzoleni (2004) define por “ modelo colateral” en- tre as elites políticas e os media . Estes compartilham pontos de vista expressos pelas elites, o que os leva a apoiar posições próximas do status quo . Esta compatibilidade de interesses en- tre a política e os media mainstream acontece porque a política tradicional oferece melhores garantias às empresas de media de continuarem a operar num determinado macrocontexto po - lítico-económico. Segundo Mazzoleni, em oposição ao “modelo adversarial” anglo-saxónico, o modelo colateral reflete melhor a tradição europeia de laços culturais entre os media e a políti- ca, ainda que se verifiquem graus de intensidade distintos em diferentes países. Em contextos nacionais onde o controle po - lítico dos media parece ser mais forte, como no sul da Europa, os interesses dos media e das elites políticas tendem a ser mais próximos. Ainda que o caso português seja sistematicamente in- tegrado no modelo pluralista-polarizado (HALLIN; MANCINI, 2004), a relação entre os media e a política em Portugal é bem mais complexa do que o proposto por aquela teorização (FIGUEIRAS, 2017b). A instrumentalização dos meios de comunicação pelos partidos políticos em Portugal foi menos intensa do que em ou- tros países do sul da Europa, e esta característica diferenciadora explica-se na conjugação de variados fatores. A fim de melhor controlar o país, a ditadura de António Salazar (1933-1974) quebrou a cultura política que estava em construção em Portugal e que assentava nos partidos políticos, criando, antes, um regime de partido único que durou mais de 40 anos (COSTA PINTO, 2002). Por outro lado, após a Revolução

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