Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Rita Figueiras 136 dos Cravos (1974), os partidos políticos recém-formados mol - daram a sua identidade mais em torno da definição do regime português – uma democracia ocidental ou uma república socia- lista de inspiração soviética – do que em torno de uma defini - ção ideológica (FREIRE et al ., 2004). Além disso, a instabilidade que os media enfrentaram devido ao intenso partidarismo das redações conduziu a um legado de aversão à instrumentaliza- ção dos jornalistas e à vontade de consolidar o profissionalismo jornalístico. Importa ainda considerar que a competição entre partidos políticos para conquistar uma parte do espaço mediá- tico, como manifestação de consociação (MANCINI, 2009), de - senvolveu-se mais nos mercados maiores e mais competitivos do sul da Europa. A dimensão reduzida do mercado português não favoreceu uma divisão como a que se verifica em Espanha e Itália, por exemplo. Estes fatores levaram à erosão das características do modelo pluralista-polarizado, que caracterizou o panorama dos media pós-revolução em Portugal, e promoveu um caminho evo- lutivo distinto. Atualmente, o panorama mediático português incorpora algumas das características originais do modelo plu- ralista-polarizado e a profissionalização do jornalismo, enqua- drada por práticas e órgãos reguladores, juntamente com uma dependência do mercado. É nesta configuração político-mediática específica que o estudo utiliza o comentário como um indicador da relação en- tre os media e a política em Portugal, tendo em vista, também, debater o conceito de mediatização da política. Todavia, antes de expormos os resultados empíricos, apresentamos as opções metodológicas da pesquisa. II - Metodologia Tal como noutros países ocidentais, a televisão conti- nua a ser a fonte de informação mais importante em Portugal (Reuters Digital News Report, 2017). Por esta razão, a análise centra-se no comentário na televisão generalista e por cabo. O país tem um sistema dual de serviço público e comercial: dois canais estatais, RTP1 e RTP2, e duas estações de televisão priva-

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