Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Discutindo a mediatização da política a partir do caso português 141 No que diz respeito aos comentadores provenientes da política, verificamos que nos noticiários do horário nobre da RTP1 houve sempre o mesmo número de comentadores prove- nientes dos dois partidos de poder em Portugal, ou seja, do PS e do PSD. O princípio do pluralismo encontra-se expresso na Lei da Televisão como uma das obrigações gerais dos operadores ge- neralistas e, em particular, como uma das obrigações do serviço público. O n.º 6 do artigo 38.º da Constituição portuguesa impõe que seja assegurada a “possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião” nos meios de comunicação do sector público. Este contexto legal ajuda a explicar o equilí - brio de presenças de comentadores provenientes da área do PS e do PSD no noticiário principal da RTP1 nos anos analisados. Por sua vez, os canais privados têm comentadores pro- venientes da área do PS e do PSD, com este último a destacar-se em número e na longevidade das colaboraçōes. Em vários anos encontramos, inclusive, apenas políticos deste partido no co- mentário da TVI (2000-2004; 2010; 2012-2014) e da SIC (2013- 2015). No geral, os comentadores estão alinhados com a sua área política e os políticos não-alinhados com os seus partidos são uma exceção no comentário em Portugal. Este tende a ser um espaço engajado com as perspetivas do partido do político comentador. Nos canais de cabo, o comentário é um elemento im- portante na estratégia das emissoras desde o arranque da SIC Notícias, em 2001, da RTP Notícias, em 2004, e da TVI24, em 2009. Este investimento tem sido contínuo ao longo dos anos e nos noticiários do prime time encontramos, a par de espaços de comentário em nome individual, outros que incluem dois co- mentadores num dia fixo da semana. Ao contrário do verificado nos canais generalistas, são os jornalistas que inauguraram os espaços de comentário nos noticiários de prime time no cabo, nomeadamente da SIC Notícias, em 2001. Os políticos chegaram a este espaço em 2007, ano em que os académicos são o perfil dominante, mas cuja pre - sença começa a diminuir em 2008, quando a dos políticos e dos jornalistas aumenta. Esta tendência contribuiu para que a di- versidade dos perfis identificados no cabo, nos primeiros anos, tenha diminuído e convergido, à imagem dos generalistas, para

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