Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Discutindo a mediatização da política a partir do caso português 147 vém de um partido sem representação parlamentar, dominam os partidos de poder (PS e PSD) e regista-se uma maior presença de comentadores provenientes dos partidos de direita (PSD e CDS) do que dos partidos de esquerda (PS, CDU, BE). Em síntese, enquanto nos canais generalistas o espaço de comentário configura-se em torno dos partidos de poder, no cabo encontramos algo próximo de uma partidocracia , mesmo se novamente a favor do PS e do PSD. Nos canais de televisão no cabo, as audiências são mais reduzidas e fragmentadas entre os vários canais e a diversidade de opiniões é maior. Por sua vez, os comentários emitidos nos canais generalistas alcançam um número muito mais vasto de espetadores, mas têm uma menor amplitude de opiniões. Esta aliança entre os partidos de poder e os media dominantes tem benefícios para as duas partes, porque ambas dirigem-se, ou pretendem dirigir-se, aos mesmos grupos de indivíduos e estão interessados ​em obter audiências elevadas para as suas mensagens. O comentário no horário nobre apre- senta-se, assim, como uma extensão da política dominante, e esta conformidade dos media às necessidades partidárias pode expli - car por que é que os comentadores políticos são maioritariamen- te provenientes dos partidos de poder nos canais generalistas e por cabo, confirmando, assim, a terceira hipótese desta pesquisa. Estudos anteriores sobre o comentário na televisão as- sinalaram a sobre-representação de comentadores políticos de direita nos noticiários na Alemanha e na Dinamarca (HOPMANN; STRÖMBÄCK, 2010). Durante o período de 16 anos analisado, o PS e o PSD governaram aproximadamente o mesmo número de anos em Portugal, e este estudo tinha a expetativa de encontrar uma presença relativamente equilibrada de políticos comen- tadores do centro-esquerda e do centro-direita. No entanto, os resultados não confirmaram a quarta hipótese na íntegra. Quando os políticos dominavam o espaço de opinião na RTP1, houve sempre uma presença equilibrada de comentadores do centro-direita e do centro-esquerda, devido às diretrizes do ór- gão estatal regulador que vinculam os media públicos ao equilí- brio político entre a esquerda e a direita em todos os conteúdos informativos, incluindo os de opinião. No entanto, na televisão comercial, os dados evidenciaram uma representação mais forte de comentadores políticos de direita, o que é ainda mais eviden-

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