Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Rita Figueiras 148 te nos canais de televisão generalista, que alcançam um público muito mais amplo. Enquanto o modelo de intervenção mínima do Estado no setor dos media , defendendo a privatização dos media públi- cos portugueses, tem sido a perspetiva dominante dos partidos de direita (PSD e CDS), o modelo expansionista, que defende uma intervenção e regulação do setor pelo Estado, tem sido uma componente do discurso dos partidos de esquerda (PS, CDU, BE) (CONDE, 2019). Assim sendo, para além da tradicional relação histórica entre os meios de comunicação e os partidos políti- cos assente numa coalizão em torno dos partidos de poder, as alianças políticas são um fator importante no negócio dos media – especialmente num mercado cujo negócio dos media é débil e volátil como o português –, e esta necessidade pode também oferecer pistas explicativas da prevalência da direita no comen - tário em Portugal. IV - Conclusão A internet e as televisões que operam 24 horas por dia alteraram o carácter e o conteúdo dos programas de informação e tornaram o comentário uma componente estruturante das noi- tes informativas. O destaque dado ao comentário pode ser expli - cado, pelo menos, por três ordens de razão que se intersetam. O comentário é um conteúdo que ajuda a preencher os espaços in- formativos, é um elemento competitivo na luta pelas audiências e é uma instância que ajuda a pensar o mundo, constituindo-se como um elemento no processo comunicativo democrático. Este contexto ajuda a explicar por que é que o comen- tário se tornou um espaço de poder em Portugal e um lugar pri- vilegiado para analisar a relação entre os media e a política. O es- tudo realizado permite-nos, então, concluir que a complexidade da paisagem mediática portuguesa – que assenta numa tradição clientelar entre a política e os media e, simultaneamente, numa afirmação da autonomia editorial do jornalismo – pode expli - car a composição do comentário nos noticiários de prime time . Deste modo, a independência dos media e o patrocínio político

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