Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Discutindo a mediatização da política a partir do caso português 149 são ambos fatores explicativos do modo como o comentário no horário nobre evoluiu ao longo do tempo em Portugal. A crescente presença de jornalistas no comentário nos noticiários indica que este espaço pode ser perspetivado como mais um elemento de intervencionismo jornalístico, ou seja, como mais uma instância mediática onde os jornalistas têm o poder de construir esquemas interpretativos sobre a atividade política. Por outro lado, os resultados indicam, também, que po- líticos e partidos aproveitam a mediatização para os seus pró- prios fins. Num nível micro de análise, determinados políticos usam o comentário como uma ferramenta estratégica para cons- truirem o seu percurso político e para se destacarem na paisa- gem político-mediática. Num nível meso, o comentário beneficia os partidos políticos dos comentadores, contribuindo para legi- timarem o seu discurso na esfera pública, definirem temas nos media e moldarem a percepção pública sobre questões políticas. Numa perspectiva macro verifica-se que o comentário pode ser perspetivado como uma estratégia de politização dos meios de comunicação que, desde sempre, caracterizou a forma como a política perspetiva os media . Assim, a divisão do espaço de co- mentário entre políticos e jornalistas, traduzindo um modelo de consociação, demonstra que a mediatização crescente da políti- ca nas sociedades ocidentais, e em Portugal em particular, não tem enfraquecido a politização dos media . Deste modo, os resultados da pesquisa permitem secun- dar o debate teórico em torno do conceito de mediatização da po- lítica. Os críticos destacam o cariz «mediacêntrico» do constructo, ao colocar os media no centro dos processos sociais, e a concep- tualização dos media como instituições autónomas e regidas ex - clusivamente por regras internas próprias (DEACON; STANYER, 2014; 2015; HEPP et al ., 2015; LUNT; LIVINGSTONE, 2016). Em linha com estas críticas, os resultados do estudo empírico sugerem que a incorporação das lógicas mediáticas na atividade política não substituiu a sua lógica original, mas in- tegrou-se nela. Consideramos que o interesse dos políticos nos espaços de comentário explica-se pelo que James Mahoney e Kathleen Thelen (2010) designam por institutional layering . A mediatização da política pode ser descrita como a introdução

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