Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Religiões na pólis midiática: midiatização, evangélicos e política no Brasil 157 Para João Batista Libânio (2002), isto não significa uma volta ao tempo em que as religiões eram referência fundamental das sociedades; pelo contrário, permanece a noção de emanci- pação sociocultural da modernidade. No entanto, a subjetiviza- ção e a individualização das religiões passam a ser questionadas por distintos grupos religiosos, em nome da superação do “apri- sionamento” das religiões “ao universo do indivíduo”. Estes dife- rentes segmentos religiosos reivindicam a liberdade crítica so- cial da fé, fazendo emergir as teologias políticas (da libertação, da prosperidade, por exemplo), o que resulta na ocupação do espaço público em suas diferentes dimensões (SANTOS, 2013). Esse contexto desprivatizante, de publicização das re - ligiões, dá mais visibilidade à pluralidade religiosa e às religiões como componentes que constituem identidades múltiplas e plu- rais que marcam as sociedades contemporâneas. Por isso, ele torna possível tanto a emergência de novas formas de comunica- ção e diálogo quanto as reações com manifestações de violência e de intolerância. No que diz respeito ao Brasil, transformações nos qua- dros sociocultural e político, em especial nos anos de passagem da década de 1990 para a primeira dos 2000, têm chamado a atenção de estudiosos e de pessoas interessadas nas questões que envolvem “religião” no Brasil. Podemos identificar nesta transformação a articulação de seis fenômenos interligados entre si (CUNHA, 2017a): (1) o fortalecimento do segmento pentecostal, com seu extenso número de igrejas autônomas, autóctones, que deu no - vos contornos ao cenário do cristianismo e provocou um cresci- mento significativo da população evangélica no País, em termos numéricos e geográficos, ressaltando a forte queda do número de católicos 2 ; 2 Este trabalho refere-se a evangélicos como todos os cristãos não católicos e não ortodoxos do Brasil. Há uma grande variedade de tipologias elaboradas por es - tudiosos da religião. Aqui optamos por uma síntese com base nos estudos em mídia e religião desenvolvidos por Cunha, 2007: evangélicos históricos, que aportaram no país por meio da atuação de missionários originados dos Estados Unidos, no século XIX (congregacionais, metodistas, batistas, presbiterianos, episcopais, luteranos), e por meio de processos migratórios (anglicanos e lute- ranos); pentecostais, que chegaram ao Brasil por meio de trabalho missionário dos Estados Unidos, no início do século XX (Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, Evangelho Quadrangular) ou que se organizaram em torno de

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