Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Religiões na pólis midiática: midiatização, evangélicos e política no Brasil 159 com base em revisão bibliográfica das abordagens teóricas da co - municação (estudos sobre midiatização social e das religiões) e das ciências da religião (evangélicos na política no Brasil), com- binada com o mapeamento e a classificação da atuação de indi - víduos e grupos evangélicos que praticam ativismo político nas mídias sociais no Brasil do tempo presente, realizado pela autora em pesquisa de estágio pós-doutoral (CUNHA, 2017a). Importa registrar que neste trabalho o olhar é voltado para a relação entre evangélicos, política e mídias interpretan- do-a como um fenômeno cultural. Joanildo Burity (2016) cha- ma a atenção para isto, quando reconhece que como a cultura é mais do que o modo de vida de um grupo, sendo campo de disputas pelo horizonte de uma ordem alternativa, a religião não veio apenas ocupar um lugar no espaço público, mas construir o que denomina religião pública. Nesta compreensão, não apenas a religião se projeta para além da fronteira do privado, por meio da vivência pessoal e coletiva, das práticas religiosas informais e institucionalizadas, mas se torna uma ação coletiva, no espaço público, como cultura e como discurso sobre valores. Daí ter se tornado uma religião pública. No Brasil da segunda década dos anos 2000, os evan- gélicos se apresentam desprivatizados, tendo saído da condi- ção de minoria invisível para uma visibilidade publicizada por meio de estreita relação com as mídias e de participação política com a realização de projetos sociais em parceria com o poder público, com voz nos debates de temas amplos e na mediação de conflitos sociais, com profissionalização da atuação política e estabelecimento de estratégias. Esta nova postura e imagem se localizam no contexto da cultura gospel (CUNHA, 2007), com a recriação da identidade religiosa evangélica e o alargamento das fronteiras delineadas no passado entre sagrado e profano baseadas numa relação em torno da tríade música-consumo-en- tretenimento. E a participação política em interação no espaço público é elemento fundamental neste processo. O conceito de espaço público neste estudo está relacio- nado ao de pólis , tal como recuperado da filosofia grega e ressig - nificado por Hannah Arendt. É uma compreensão que transcende a noção geográfica e territorial relacionada ao espaço público da cidade, do Estado e da Nação, e também à visão que a vincula ao

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