Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Magali do Nascimento Cunha 160 Estadomoderno, à cidadania, à democracia, àmobilização, ao enga- jamento e à participação na política, ao discurso e à opinião públi- ca (HABERMAS, 1984). Arendt refere-se à pólis como um lugar de aparição e de interação, “não importa onde [as pessoas] estejam”: A rigor, a polis não é a cidade-estado em sua locali- zação física; é a organização da comunidade que re - sulta do agir e falar em conjunto, e o seu verdadeiro espaço situa-se entre as pessoas que vivem juntas com tal propósito, não importa onde estejam. ‘Onde quer que vás, serás uma polis’: estas famosas pa- lavras não só vieram a ser a senha da colonização grega, mas exprimiam a convicção de que a ação e o discurso criam entre as partes um espaço capaz de situar-se adequadamente em qualquer tempo e lugar. Trata-se do espaço da aparência, no mais amplo sentido da palavra, ou seja, o espaço no qual eu apareço aos outros e os outros a mim; onde os homens assumem uma aparência explícita, ao invés de se contentar em existir meramente como coisas vivas ou inanimadas (ARENDT, 2009, p. 211). É aqui que o lugar das mídias e do processo da socieda- de emmidiatização se destaca. Reconhecemos que não é possível compreender a desprivatização dos evangélicos brasileiros e a construção da religião pública por este segmento cristão sem se considerar a dinâmica acelerada e diversa de formas de interação dos diferentes grupos evangélicos entre si e comoutros (religiosos e não religiosos) por meio das diferentes mídias. Parafraseando José Luiz Braga (2012, p. 37), assim vemos os processos de inte- racionalidade midiatizante estimulando os modos pelos quais os evangélicos se comunicam e, em consequência, tentativamente se organizam no espaço público, em um movimento que os tira da reclusão dos templos à visibilidade da pólis midiatizada. II - Evangélicos na política: dos templos à pólis A estreita relação entre religiões e política não é novi- dade. Basta retomar na história a romanização do catolicismo e sua constituição como poder cultural e político; as disputas cul-

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