Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Magali do Nascimento Cunha 162 Portanto, nas demandas contemporâneas em torno de políticas culturais, das identidades coletivas, de ações afirmati - vas, do pluralismo, do consumo, dos movimentos sociais, de re- des de articulação social, da política partidária, há uma intensa presença das religiões que deve ser reconhecida, seja ela avalia- da de forma positiva, crítica ou relativizada. Além deste “retorno” das religiões ao espaço público, elas são também lugares de afirmação de identidades e de prá - ticas cotidianas que estruturam a vida, produzindo comunida- de, integrando socialmente, inculcando valores. É neste sentido que as religiões se inscrevem culturalmente no espaço público e (re)legitimam sua função pública (BURITY, 2016). Com isso, a vivência pessoal e coletiva, informal e institucionalizada das práticas religiosas não fica mais retida na fronteira do privado, mas também se projeta pelo espaço público como ação coletiva, como cultura e como discurso sobre valores, configurando-se uma religião pública. Religião pública significa levar a religião para além de suas fronteiras institucionais e simbólicas, permitindo que o outro-religioso e o não-religioso interajam na vivência religio- sa. O religioso vai ao secular e o secular vai ao religioso, em um intercâmbio que, por vezes, leva a confrontos, por vezes leva à formação de alianças antes impensáveis. Eis uma importante característica da religião pública: ser constituída de fronteiras permeáveis, transpassáveis, fluidas. É nesse sentido que podemos afirmar que a configu - ração da religião pública entre os evangélicos brasileiros dá-se no contexto da dinâmica da sociedade em midiatização. Por midiatização referimo-nos, com base nos estudos de José Luiz Braga (2006), aos processos interacionais (de sociabilidade) que “se realizam de modos bastante diversos, em sociedades específicas”, e se desenvolvem segundo as lógicas das mídias (BRAGA, 2006). A expressão “em midiatização” refere-se ao fe- nômeno como um processo em curso, uma dinâmica, não um elemento consolidado ou determinado por uma única forma de estruturação. Recorremos também a Roger Silverstone na com- preensão de que a midiatização é “um processo fundamental- mente dialético, ainda que não sempre igual, mediante o qual

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