Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Magali do Nascimento Cunha 164 III - Novos significados Independentemente das peculiaridades dos distintos grupos que formam o segmento evangélico, os evangélicos bra- sileiros foram classicamente identificados, nos estudos de reli- gião, de acordo com Magali Cunha (2007): (1) por uma predominante leitura fundamentalista (li- teralista) do texto sagrado cristão, a Bíblia; (2) pela ênfase na piedade pessoal na busca da salvação da alma (influência do puritanismo e do pietismo dos pioneiros missionários que vieram do sul dos EUA do século XIX ao Brasil); (3) por frequentes posturas de rejeição das manifes- tações culturais não cristãs do país (fruto da mesma ação de missionários); (4) por um isolamento das demandas sociais (resul- tante da espiritualização das questões da existência individual e social), entre elas a participação política. Como descrito anteriormente neste trabalho, transfor- mações na cultura evangélica, na passagem do século XX para o XXI, provocaram alterações deste quadro. Uma delas é identificada no apagamento da máxima “crente não é deste mundo, por isso não se mete em política”. Esta mudança ocorre especialmente a partir do Congresso Constituinte de 1986, quando foi formada a primeira bancada evangélica. A partir dali, pode-se dizer que a postura de isola- mento deste segmento com relação à participação política – até então interpretada como algo “do mundo”, identificado a pai - xões terrenas – passou a conviver com outros ideais, referentes à participação e visibilidade na vida pública, que podem ser re- sumidos na formulação “irmão vota em irmão”. Depois de altos e baixos numéricos, decorrentes de casos de corrupção e fisio - logismo, a bancada evangélica se consolidou como força, o que resultou na criação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em 2003. Até 2010, esses parlamentares não eram identificados como conservadores do ponto de vista sociopolítico e econômi- co. Suas vitórias consistiam em barrar o avanço de projetos con- siderados ofensivos à moralidade sexual religiosa: descriminali - zação do aborto e casamento gay, especialmente. Seus projetos

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