Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Religiões na pólis midiática: midiatização, evangélicos e política no Brasil 165 raramente interferiam na ordem social: revertiam-se em “praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer com os católicos, benefícios para templos. O perfil dos partidos aos quais a maio - ria desses políticos estava afiliada refletia isto, bem como recor - rentes casos de fisiologismo. Em pesquisa 3 sobre dinâmicas sociopolíticas e cultu- rais enfatizadas nas narrativas de grandes mídias noticiosas e mídias religiosas sobre a participação de evangélicos no proces- so eleitoral, podemos identificar uma potencialização da força do segmento no espaço público. Identificamos os seguintes ele - mentos que contribuíram para isto: (1) uma nova aproximação dos políticos evangéli- cos com o governo federal. Ela já havido sido forte durante o Congresso Constituinte, foi enfraquecida nos anos 1990, ape - sar de todo o apoio eleitoral dado por lideranças das diferen- tes igrejas a Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso em suas candidaturas, mas se renovou com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva à presidência, em 2002. Esta situação foi facili- tada pelas alianças feitas pelo PT com diversos partidos, nos quais deputados evangélicos estavam alocados, e à estratégia de campanha de aproximação com lideranças evangélicas das igrejas e da política partidária a fim de se superar a demoni - zação da figura de Lula como comunista, opositor das igrejas, com a abertura do governo a várias iniciativas e a diversas li- deranças evangélicas. (2) Duas igrejas evangélicas tornam visíveis seus projetos de ocupação da política institucional do país: as Assembleias de Deus (AD) e a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Ambas passaram a ocupar, depois de 2003, espa- ços plenos de poder em partidos (respectivamente o Partido Social Cristão/PSC e o Partido Republicano Brasileiro/PRB) e em cargos públicos, como as nomeações dos ministros de Estado de Dilma Rousseff, Marcelo Crivella (PRB, Pesca, IURD) e George Hilton (PRB, Esportes, IURD), e de Michel Temer, Marcos Pereira (PRB, Indústria, Comércio Exterior e Serviços, IURD) e Ronaldo Nogueira (PTB, Trabalho, AD). A Convenção Geral das 3 Cf. pesquisa desenvolvida para estágio pós-doutoral que resultou na obra Cunha, 2017a.

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