Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Magali do Nascimento Cunha 166 Assembleias de Deus no Brasil tem trabalhado para o registro do seu próprio partido, o Partido Republicano Cristão (PRC). Nos últimos dois pleitos eleitorais, as ADs foram capazes de lançar dois candidatos à Presidência da República, Marina Silva (2010 e 2014) e o Pastor Everaldo (2014), e a IURD conseguiu ele- ger o bispo e senador Marcelo Crivella como prefeito do Rio de Janeiro, o que dá o tom da força política alcançada por estas duas denominações evangélicas. (3) A partir de 2010 as grandes mídias passaram a en- fatizar o tema dos direitos LGBTI na campanha eleitoral e nos projetos debatidos no Congresso Nacional (Plano Nacional de Direitos Humanos-3). Junto com este tema, veio também a pauta da legalização do aborto, com pressão sobre a então candidata à Presidência da República pelo PT Dilma Rousseff. Houve muita mobilização de grupos evangélicos contra Dilma Rousseff, cuja campanha era defensora destes temas. Em 2013, o caso do de- putado Marco Feliciano (antes PSC/SP, depois PODE/SP) reto - mou com força estas temáticas, com amplo espaço nas mídias. Tratou-se da inusitada nomeação do deputado como presiden- te da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara e de escândalos que estiveram a ela relacionados. Este processo culminou no revigoramento das bandeiras políticas da banca- da evangélica e de lideranças evangélicas, com projetos de visi- bilidade pública em torno da garantia da moralidade sexual no plano da legislação, sob o rótulo “Defesa da Família Tradicional” contra movimentos feministas e LGBTI. Na esteira desta tendên- cia, houve o fortalecimento do Partido Social Cristão (PSC) nas eleições de 2014, favorecendo o lançamento de candidato pró- prio à Presidência da República, o Pastor Everaldo, e projetando a candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (ex-PSC, agora no PSL) à Presidência da República em 2018. (4) A eleição do deputado federal evangélico Eduardo Cunha (MDB/RJ) como presidente da Câmara dos Deputados, em 2015, ano de sua transferência da Igreja Sara a Nossa Terra para a Assembleia de Deus, contribuiu para uma reconfiguração da presença dos evangélicos na política nacional e para o fortale- cimento de pautas conservadoras no Congresso. Eduardo Cunha atuou intensamente na articulação do impeachment da presi- dente Dilma Rousseff, em 2015 e 2016. Sua queda foi posterga-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz