Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Magali do Nascimento Cunha 168 em especial em torno da “guerra” entre políticos evangélicos e militantes de movimentos feministas e LGBTI. Com isso, essas mídias proporcionaram a recriação do “imaginário do inimigo” entre os evangélicos com abordagens como “salvar a família” dos militantes LGBTI, das feministas e da esquerda, cujo projeto maior é implantar o comunismo no país. Estes temas passaram a aparecer em conteúdo de campanha de candidatos a cargos pú- blicos e estão presentes em discursos de lideranças das igrejas. Neste contexto, as mídias religiosas contribuíram para a recria - ção do imaginário da perseguição dos evangélicos em terras bra- sileiras, presente desde a implantação do protestantismo no sé- culo XIX, e do estímulo a uma “guerra espiritual” como resposta. Estes elementos compõem o quadro que hoje coloca os evangélicos como grupo religioso protagonista no processo po- lítico em curso no Brasil, o que resulta na intensa visibilidade da bancada evangélica no Congresso Nacional, e também no surgi- mento de lideranças religiosas ativistas políticas não institucio- nais, com forte presença nas redes sociais digitais. IV - Relação evangélicos-política e as mídias Esta pauta acima descrita passa pela compreensão dos processos comunicacionais que envolvem a ampla ocupação dos espaços das mídias tradicionais por evangélicos, nos últimos 30 anos, por meio de concessões públicas, fenômeno denomi- nado “coronelismo eletrônico evangélico” (FIGUEIREDO FILHO, 2010). Passa também pelo entendimento dos significados em torno da popularização da presença dos evangélicos nas gran- des mídias em espaços noticiosos e de entretenimento, como parte do fenômeno “cultura gospel” (CUNHA, 2007). Inclui ain- da a avaliação da relação do (novo) ativismo político evangélico com a forte presença de indivíduos e instituições vinculados a este segmento religioso nas mídias digitais com inúmeros sites, blogs e perfis em mídias sociais ( CUNHA, 2017a). É fato que a dimensão da participação e da transforma- ção dos receptores em emissores, por meio de processos de in- teração possibilitados pelas mídias digitais, especialmente pela internet, mudou o quadro da relação igrejas-mídias, de forma

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