Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Religiões na pólis midiática: midiatização, evangélicos e política no Brasil 169 expressiva. Quando se reflete sobre as mídias sociais, uma infini - dade de articulações e espaços é nítida. Igrejas e grupos cristãos passam de usuários das mídias, com o objetivo de apresentar o Evangelho e lhe dar visibilidade, a participantes de um espaço para além das fronteiras do sagrado e do profano – a pólis midiá- tica, espaço de aparição midiatizado (SILVERSTONE, 2010), uma realidade que não substitui as experiências vividas, mas as atra - vessa e as representa, espaço no qual indivíduos e grupos apare- cem aos outros e os outros a eles. Nesse sentido, igrejas e grupos cristãos podem firmar comunidade, articular, promover sociali - dade, expor posições diante de demandas sociais e discuti-las. Por outro lado, as igrejas passam a não ter mais o con- trole do sagrado e da doutrina como tinham antes (HOOVER, 2014). As mídias digitais tornam possível que qualquer pessoa que manifeste uma fé, tenha ela vínculo formal com uma insti- tuição cristã ou não, expresse suas ideias, reflexões e opiniões de forma livre. Nesse sentido, tirou o controle dos conteúdos da fé (doutrinas, símbolos, rituais, dogmas) das mãos das lideranças. Uma pessoa que tenha um simples espaço digital, seja um blog ou uma conta em mídias sociais, o que envolve baixíssimo custo de acesso e de produção, tem abertura ampla para a livre mani- festação, o que nem sempre foi possível nos espaços presenciais religiosos. Este processo de presença da religião no universo digital faz surgir novas autoridades religiosas: as celebridades evangélicas (pastores midiáticos e cantores gospel) e os bloguei- ros e youtubers gospel. Essas novas autoridades tornam-se re- ferência para muitos evangélicos quanto ao que pensar e como agir (KARHAWI, 2017). Venício Lima instiga a uma compreensão deste fenô- meno quando chama a atenção para o importante papel que as mídias desempenham nas dinâmicas sociopolíticas: o poder de longo prazo que elas têm na construção da realidade por meio da representação que fazem dos diferentes aspectos da vida hu- mana e, particularmente, dos políticos e da política. “É através da mídia – em sua centralidade – que a política é construída sim- bolicamente, adquire um significado” (LIMA, 2009, p. 21). Desta forma, pode-se afirmar que a relação entre evangélicos e política no tempo presente, no Brasil, é marcada pelo processo de midia- tização social.

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