Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Magali do Nascimento Cunha 170 Não deixando de se tomar em conta os argumentos po - sitivos e negativos referentes ao lugar da internet na promoção da participação política em sociedades democráticas (GOMES, 2005), é preciso reconhecer que a ocupação deste espaço pos- sibilitou algum avanço na limitada visibilidade política destes grupos evangélicos minoritários, com efeitos nas mídias tradi- cionais, o que instiga à análise. É uma “arena de visibilidade” que forma a “esfera de visibilidade pública” (GOMES, 2014) dos evangélicos no Brasil. Nesse sentido, como indicado em todos os elementos descritos nos itens anteriores deste estudo, os evangélicos se colocam na arena como um bloco organicamente articulado. Não são mais “os crentes” ou os grupos fechados de outrora. A separação social, “do mundo”, deixa de ser um valor evangélico da tradição fundamentalista-puritana: são hoje um grupo que desenvolve a cultura “da vida normal” combinada com a religião com presença nas mídias, moda própria, artistas e celebridades, inserção no mundo do mercado e do entretenimento. Além dis- so, este segmento religioso se vê fortalecido como parcela social que tem suas próprias reivindicações e pode eleger seus pró- prios representantes para os espaços de poder público. A estas situações, paradigmáticas para a relação evan- gélicos- política, soma-se um elemento novo e expressivo: o ati - vismo político evangélico, que deixa de ser restrito a épocas de eleições, com a atividade voltada à ação de cabos eleitorais dos candidatos em suas respectivas igrejas. Este ativismo ganhou corpo a partir de 2010, com o envolvimento de lideranças reli- giosas e fiéis, tanto em períodos eleitorais, predominantemente (e curiosamente) em campanhas de oposição (para que não se vote em candidatos, fundamentalmente, da esquerda), quanto na defesa ou na oposição a temas, como o apoio ao pastor Marco Feliciano, em 2013, quando presidente da CDHM, o projeto de redução da maioridade penal liderado pelo senador evangélico Magno Malta, em 2015, ou o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016 (CUNHA, 2017a). Este ativismo tem-se dado presencialmente nas ruas, como na anual Marcha para Jesus, evento demassa realizado pela Igreja Renascer em Cristo, no feriado católico de Corpus Christi, na cidade de São Paulo, com a presença de políticos evangéli-

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