Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Religiões na pólis midiática: midiatização, evangélicos e política no Brasil 171 cos ou apoiados por igrejas evangélicas; ou em manifestações especificamente convocadas por lideranças evangélicas, como a Marcha pela Família Tradicional, realizada em Brasília, em 2013, convocada pelo Conselho Nacional de Pastores do Brasil, à época presidido pelo pastor Silas Malafaia; ou ainda em atos públicos em locais estratégicos, como os que são realizados pela Frente Evangélica pelo Estado de Direito, criada em 2016, para fazer oposição ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. Os ativistas também são mobilizados a distância, por meio de manifestações múltiplas na internet, em especial postagens es- critas, em áudios e em vídeos emmídias digitais (websites, blogs e mídias sociais), especialmente o Twitter e o Facebook, como é demonstrado no mapeamento realizado pela autora em 2016 (CUNHA, 2017a). Este processo de dilatação do ativismo político evangé- lico coincidiu com o período do fortalecimento da bancada evan- gélica entre 2002 a 2004, e com a intensa campanha de grupos conservadores, em 2010, contra a eleição de Dilma Rousseff à Presidência da República. De forma surpreendente, a partir daí, e mais ainda depois de 2014, evangélicos de diferentes denomi- nações, identificados com o discurso assumido por lideranças da bancada evangélica e por celebridades do cenário religioso, passaram a se identificar publicamente como “conservadores” e “de direita” (CUNHA, 2017a). Os protestos de junho de 2013 e os movimentos conservadores dele derivados, a eleição do Congresso Nacional mais conservador desde 1964 no pleito de 2014 (DIAP, 2014) e a posse de Eduardo Cunha como presiden- te da Câmara Federal forneceram o ambiente propício para que os grupos identificados com o conservadorismo religioso, teo - lógico e político se revitalizassem e passassem a se expor mais publicamente. É possível identificar que é no espaço da pólis midiática que a vida política se tem desenvolvido com mais intensidade e paixão, com construção e reconstrução das visões de mundo (imaginários) e com discursos tornados públicos e chamamento a ações coletivas. Aqui temos o que Fausto Neto (2010) denomina “jogos complexos de oferta e reconhecimento”. Por meio deles se legi - timam valores morais e se deslegitimam outros. No mundo da

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