Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Magali do Nascimento Cunha 172 religião isto é muito intenso; basta observar a oferta do discurso religioso de “salvação da família que está em risco”, com as pro- postas e campanhas por direitos sexuais por parte de mulheres e de LGBTIs (CUNHA, 2017a). Esta oferta promoveu identificação e reconhecimento de evangélicos e católicos romanos conser- vadores a ponto, por exemplo, de consolidar o termo “ideologia de gênero” como delimitador de uma nova fronteira identitária (CUNHA, 2017b). Nesse sentido, as lógicas de fidelização e “contratos de leitura” (FAUSTO NETO, 2010) são postas em xeque. Evangélicos que, historicamente, condenam católicos como idólatras e pa- gãos rompem esta fronteira pelas mídias e quebram a lógica clássica da hostilidade e do antiecumenismo, por meio da asso- ciação de combate a um inimigo comum. Pesquisa publicada sobre a relação entre mídia, reli- gião e política indicou um predomínio da corrente conservadora evangélica no Brasil nos espaços midiáticos religiosos tradicio- nais e digitais (CUNHA, 2017a). É o reflexo do predomínio que alcançam no espaço político partidário. Nesse contexto, a ação midiática promove a invisibilidade de outros grupos religiosos e de evangélicos mesmos, de vertente progressista. O mapeamento realizado na pesquisa mostrou que os grupos evangélicos em maior evidência nas mídias tradicionais no Brasil são pentecostais na totalidade e dispõem de recur- sos financeiros, alcançados pelas práticas religiosas baseadas na teologia da prosperidade, aquela que reafirma as lógicas do mercado (a bênção de Deus se manifesta em elementos mate- riais – saúde, felicidade na família e bens). Isto tornou possíveis a profissionalização de sua presença nas mídias e o estabele - cimento de um padrão de visibilidade midiática. Nesse rastro, criou-se uma cultura midiática evangélica que possibilitou que estes grupos e os indivíduos e segmentos evangélicos que neles se inspiram se pusessem inteiramente à vontade no mundo das mídias digitais. Como exemplo, temos a figura do pastor Silas Malafaia, que por conta desta visibilidade foi alçado à condição de “porta-voz” dos evangélicos também pelas mídias tradicio- nais não religiosas, sendo personagem alvo da coleta de depoi- mentos, opiniões e pronunciamentos na quase totalidade das grandes mídias (CUNHA, 2015).

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