Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Ada C. Machado da Silveira 182 mite depreender que há um determinado tratamento previsto para ser aplicado na projeção jornalística de acontecimentos ocorridos ou atinentes à espacialidade periférica. A vida social dos espaços periféricos, aqueles acontecimentos que não são re- conhecidos como ocorrentes numa pretensa centralidade, não desfruta de um status reputado como de referência informati- va. Sendo assim, uma profusão de conteúdos são desestimados como de valoração secundária para a atividade cotidiana de co- bertura em parâmetros concebidos como jornalísticos. Parto do afirmado em outro texto (HARTMANN; SILVEIRA, 2018, p. 202): “Em que pese ter sido ofuscada histori- camente, como a face negativa da sociedade brasileira, a perife- ria metropolitana ganharia, no século XXI, uma luz inesperada”. Entendo que estamos habituados, por força de uma formação que naturalizou discriminações de classe, a uma estrutura de certo padrão noticioso, uma ordem de noticiabilidade em ter- mos foucaultianos, marcada pela exclusão social. Outro procedimento observável na noticiabilidade em apreço consta da exterioridade, tomada como operação consti- tutiva de uma política discursiva reativada em discursos circu- lantes (FOUCAULT, 1997). Ela pretende garantir a comunicabi - lidade pretendida pela mídia de referência. Devido a ela, conce- bemos um padrão noticioso em que a visibilidade do periférico decorre de problemas infligidos à população habitante do que se caracteriza como inerente à centralidade do urbano e, tradicio- nalmente, localizado na costa litorânea brasileira. De outra par- te, trata-se da ampla disseminação ideológica dos definidores primários na atividade jornalística, ocupados da reprodução de amplos consensos, conforme se analisou no noticiário da segu- rança pública (SILVEIRA; DALMOLIN; MASCARENHAS, 2017b). Desta maneira, reafirmo o entendimento de que “ a ordem da noticiabilidade expressa as condições de trato dos acontecimentos; ela é fruto da convivência social, de crenças religiosas e laicas, do exercício do poder e do exercício da resis - tência. A noticiabilidade resulta da compreensão de uma ordem noticiosa que reproduz a percepção de uma dada ordem social” (HARTMANN; SILVEIRA, 2018, p. 202). Uma das consequências conhecidas pela cobertura midiática decorre de que ela trabalha com a concepção de que

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