Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Ada C. Machado da Silveira 188 A colonização da fronteira possui agregações peculiares que se mobilizam de acordo com a ordem heterônoma implan- tada em distintos Estados-nação, articulados em conurbações e em CUTs, entendidos como velhas e novas formas de partilhar um destino comum à distância dos centros políticos e econômicos. Entender a pólis em sua condição atual de sociedade em rede contempla assumir as contradições nela existentes. Ademais, em um contexto globalizado como é o fronteiriço, em que tecnologias móveis atropelam as mais diversas condições de produção de narrativas midiáticas, apresenta-se convincente a distinção operada por Manuel Castells (2012, p. 82) entre espa- ço de fluxos (global) e espaço de lugares (local). Creio ser pertinente recordar uma análise do ingresso do CUT BRA-PY-AR na agenda internacional a partir do 11 de se - tembro de 2001, realizada por Montenegro e Giménez (2010, p. 63): “Ao mesmo tempo, os artigos da Military Review , bem como o informe sobre a Tríplice Fronteira elaborado pela Federal Research Division citaram como fonte a imprensa, num feedback que homogeneizou a visão desse espaço”. As autoras apontam que a cobertura da região permitiu colocar em relação eventos distantes com circunstâncias locais, uma perspectiva externa que se plasmou numa matriz de discurso homogêneo e recor- rente que começou a ser contestado por argumentos de outros meios internacionais ou locais alternativos. A cobertura sobre a periferia das fronteiras internacio- nais brasileiras compreende dois tipos de atividade que concor- rem para a midiatização da pólis , embora estejam submetidas a lógicas distintas. Uma cobertura factual atuaria no âmbito das práticas noticiosas e implica preceitos como: correção dos limi- tes, imputação do desvio (a prática ilegal do descaminho), con- denação da liminaridade, prescrições morais para os envolvidos e vigência da ordem heterônoma em sobreposição aos indiví- duos. A atividade institucional das mídias profissionais é res - ponsável pelo CUT ser conhecido por altas taxas de homicídios, atividades ilegais, bem como as suspeições de associação com o tráfico de drogas, armas e demais mercadorias ilícitas. As ca - racterísticas promovidas midiaticamente alimentam decorrente atribuição de relação com o terrorismo por parte das agências de segurança.

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