Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Prefácio 19 ta necessariamente níveis crescentes de desintermediação (isto é, a consciência de que os intermediários tradicionais, como o jornalismo ou televisão, não são mais necessários para os fluxos de comunicação), não seria um sinal de que a mediatização já não descreve o essencial da nossa época. Por outro lado, Gomes se indaga, como resposta à primeira questão, se não assistimos, paradoxalmente, ao limiar de uma nova forma de mediatização, cujo sentido e alcance ainda não somos capazes de prever. O outro conjunto de capítulos são, como disse, de aplicação da ideia de mediatização a um âmbito de problemas específico ou a tentativas de teorização de novos conjuntos de fenômenos, a partir das premissas assentadas nos estudos de mediatização. Os capítulos de Rita Figueiras, Mario Carlón e Magali Cunha trazem problemas de política como problemas de media- tização. Fausto Neto e a própria Figueiras também consideram a mediatização à luz do jornalismo – ou o jornalismo à luz da me- diatização. Ilya Kiriya, por sua vez, ocupa-se com as indústrias da mediatização, mapeando-as como indústrias criativas e in- dústrias da educação. Ana Paula da Rosa e, de novo, Carlón pen- sam o estatuto das imagens circulantes em ambientes digitais à luz das premissas da mediatização, enquanto José Luiz Braga e Jairo Getúlio Ferreira enfrentam frontalmente os problemas das comunicações digitais. O capítulo de Figueiras traz-nos uma pesquisa empíri- ca, com fundamento teórico robusto, sobre o comentário político no horário nobre da televisão portuguesa como caso de media- tização da política. O universo empírico inclui os anos de 2000 a 2015, emque a autora examina hipóteses sobre níveis e natureza da interação entre política e jornalismo por meio do comentário de política, entendido por ela como um locus privilegiado para se examinar a relação entre os meios de comunicação e a políti- ca. Figueiras tem o cuidado de nos dizer com clareza quais ele- mentos constituem o seu conceito operacional de mediatização, que se resume a duas premissas: que a relação de força entre meios de comunicação e política consiste no predomínio de um campo sobre o outro; que a predominância tem resultado num domínio das lógicas específicas dos meios de comunicação, com consequente reconfiguração da esfera política. De resto, trata-se

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