Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Ada C. Machado da Silveira 192 IV - A pólis midiatizada Um apontamento que repercute na noticiabilidade da pólis midiatizada consiste na distância das capitais nacionais do CUT BRA-PY-AR. Grande também é sua distância da linha li - torânea do Atlântico Sul, espaço portuário de amplas conexões com o Hemisfério Norte. Enquanto a criminalização do CUT é frequente, atividades ilegais nas praias do Atlântico Sul são ha- bitualmente ignoradas pela agenda da mídia de referência brasi- leira. Conforme destaquei em outra análise, a contradição passa ao largo das análises: Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro deteve-se exaustivamente no estudo do noticiário entre 2000 e 2010 e elabo- rou um relatório em que apresenta um resumo da amostra de 529 reportagens sobre o tráfico de armas, munições e explosivos que foram divulga - das na mídia daquela cidade. Dessa amostra foram extraídas 105 reportagens que passaram por uma análise qualitativa, acrescidas de 102 reportagens de 2011 (SILVEIRA; GUIMARÃES, 2016, p. 11). A análise da ALERJ aponta o olhar factual realizado pela cobertura midiática e o enfoque na construção do inimigo externo em conivência com agentes de Estado: “De acordo com a amostragem analisada de reportagens sobre o assunto, arma- mento pertencente ao próprio Estado e que é desviado para a criminalidade, muitas vezes com participação de agentes públi- cos, representa a maioria absoluta dos casos noticiados” (ALERJ, 2011, p. 225-228). Tal postura acusa a plena conformidade com o olhar colonial disseminado historicamente pelas agências in- ternacionais de notícias. Os CUT têm sido estudados especialmente pela Geografia. Conforme Dilla A. (2012), são manchas urbanas transfronteiriças; produto de fluxos de capitais, bens e pes - soas; corredores e regiões transfronteiriças; demografia, eco- nomia, política e relações sociais; possuem uma dinâmica de intercâmbios desigual.