Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Quando os olhos não piscam nem param: da imagem-operação à ascensão ao fluxo 203 ferindo também em suas lógicas, em especial nas jornalísticas. Para pensar estes dois pontos nos voltamos para as imagens. Dentro deste cenário midiatizado, onde o acesso aos dispositi- vos é cada vez mais amplificado, percebemos uma irrupção de produções imagéticas vindas dos mais diferentes lugares, tanto jornalísticos quanto de instituições não midiáticas e muito fre- quentemente dos atores sociais. Tais produções explicitam que há lógicas em jogo, já que os vídeos, as fotografias, os memes e as transmissões em tempo real não são apenas produzidas para a visibilidade ou como democratização de perspectivas, mas são imagens produzidas e pensadas para a circulação. Isto é, são vi- síveis marcas de estratégias de fixação e de operações de valor que prolongam a circulação de determinadas imagens. Para compreender a circulação em sua dinâmica, pro- pomo-nos construir um caso de análise, marcado por um campo de observação não passível de ser recortado no tempo, especi- ficamente, mas que se desmembra em relações. Como bem ob - serva Fausto Neto (2013), a midiatização se dá em um feixe de relações, mas estas são naturalmente desiguais, quando passa- mos a atribuir a força do processo comunicacional não mais a elementos isolados, mas à circulação do sentido. É neste aspecto que estruturamos nosso texto: num primeiro momento a tensão entre acesso e excesso, para num segundo problematizar as ló- gicas de mídia e de midiatização que atravessam a produção de imagens. Por fim, dedicamo-nos ao caso desta pesquisa, um caso que emerge da circulação e que, ao mesmo tempo, só se configu - ra em virtude de estratégias adotadas por seus “participantes”. Referimo-nos ao recente episódio da circulação de materiais audiovisuais sobre um bombardeio que dizimou centenas de pessoas na Síria. O ataque ocorreu entre os dias 19 e 20 de feve - reiro de 2018, em Ghouta oriental, um enclave rebelde nos arre- dores da capital síria, Damasco. Imagens do resgate de crianças entre os escombros da cidade percorreram o mundo e foram amplamente inseridas em dispositivos jornalísticos nacionais e internacionais. Em destaque estavam a infância e a iminência de sua extinção. No entanto, para além das discussões sociais e emanadas das fotografias, este artigo se propõe tensionar as imagens que circulam. Que imagens estão em disputa? E em se tratando de uma disputa de sentidos, que lógicas são perceptí-

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