Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Quando os olhos não piscam nem param: da imagem-operação à ascensão ao fluxo 207 tão intenso até meados dos anos 90 3 . Com isto, o espaço (tempo- ral e de ação) entre a produção e o reconhecimento que foi de- nominado, durante muitos anos, como uma espécie de intervalo ou um hiato torna-se uma instância operadora da comunicação, já que o sentido é produzido efetivamente não por um ou outro elo do processo, mas em disputa, no contato. Quando tratamos da circulação como espaço, não esta- mos nos referindo a meios de comunicação, embora a circulação tenha sua ponta visível exatamente nos dispositivos midiáticos. Mas para recuperar a circulação é preciso ir mais a fundo do que simplesmente identificar o que emerge; é necessário recuperar os rastros. Neste propósito, a noção de circulação aqui empregada está voltada para este momento invisível, passível de ser reconsti- tuído pelos rastros das materialidades e que nos dá condições de compreender a dinamicidade do sentido. Em termos de imagem, isso demanda observar suas inscrições e ausências em pluridis- positivos, de múltiplos “atores”. Entendemos que as imagens, no contexto da midiatização, são produzidas e pensadas para a circu- lação, ou seja, não há um fato como um atropelamento, uma ação social, um atentado que não seja transformado em acontecimento midiático e em imagem. Chegamos ao ponto de termos atentados terroristas sendo transmitidos pelo Facebook ou assaltos filma - dos pelas próprias vítimas feridas, o que indica que a imagem não é um registro, mas é a condensação do mundo, a metáfora vi- sual do que somos incapazes de traduzir. No entanto, as imagens que são postas em circulação, produzidas para dar visibilidade e para que sejam visíveis, nem sempre são imagens produzidas por quem as coloca no fluxo (BRAGA, 2012); muitas vezes, ao con - trário, são fruto de apropriações, reelaborações e perlaborações. Tais movimentos implicam novos sentidos em curso ou a manu- tenção de sombras que se acoplam ao processo de circulação e, inevitavelmente, de circularidade 4 . 3 Importa dizer que a circulação é parte intrínseca do processo comunicacional. Contudo, quando demarcamos sua intensificação a partir dos anos 90, estamos reiterando o lugar do acesso ao espaço do ambiente digital, o que Verón (2013) destacou como uma intensificação da complexidade do processo de produção de sentido e de seus embates derivados. 4 Há uma diferença importante entre circulação e circularidade. A circulação está voltada para a processualidade interacional, que implica novas camadas de sen- tido e interações. Já na circularidade temos objetos que efetivamente são repeti-

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