Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Ana Paula da Rosa 208 A circulação é fruto de um intenso jogo interacional que se dá a partir da noção de contatos e hibridizações. Fausto Neto (2013) destaca que a tecnologia possibilita o encurtamen- to das distâncias, uma vez que os polos produção-recepção já não podem ser pensados senão como contatos. Cada contato ou acoplamento demanda um esforço de produção de sentido; ou seja, a imagem do registro dos ataques na Síria publicada na mídia canônica, que se liga às publicações e ações desencadea- das no Facebook, é acoplada a novas produções de cartunistas e atores sociais em seus dispositivos. Isto é, há uma cadeia de produções, coproduções, apropriações, ressignificações que le - vam o sentido adiante por meio de circuitos, pondo em prática os movimentos de fagia. Para Braga (2012), os ritmos da circulação se encontram modulados por articulações diversas possíveis entre as táti- cas da instantaneidade que procuram abreviar o tempo de acesso e de circulação; e as táticas de acervo, voltadas para a permanência e para a re- cuperação. O fato de que os circuitos em desenvol- vimento tenham a tendência assinalada, de “atra- vessar” os campos sociais estabelecidos – mesmo quando o ponto de origem de um circuito é um desses campos, como, por exemplo, o educacional –, leva a uma espécie de “recontextualização”. As referências habituais se encontram deslocadas ou complementadas por referências menos habituais – fazendo com que os próprios circuitos em desen- volvimento elaborem e explicitem os contextos re - queridos para atribuição de sentidos aos produtos e falas que circulam (BRAGA, 2012, p. 49). Cabe destacar que, na midiatização, a criação e cocria- ção contínua de circuitos são uma marca, sejam tais circuitos desenvolvidos na esfera da mídia ou fora dela, como uma re- verberação de seus temas. Neste sentido, interessa pensar que a circulação não se restringe aos produtos que circulam ou que desenvolvem potencial de circularidade (idas e vindas), mas se dos, aparecem, reaparecem e se instalam. A circularidade envolve o próprio pro- cesso do olhar, como já indica Flusser (2002) a respeito do scanning . Temos, em nossos casos de análise, uma circularidade do tempo e das imagens no tempo.

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