Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Quando os olhos não piscam nem param: da imagem-operação à ascensão ao fluxo 209 manifesta no embate pela produção de sentido que se realiza no âmbito dos dispositivos midiáticos. As imagens que com- põem nosso campo de observação podem ser entendidas como agenciadoras de circuitos interacionais, pois a cada nova pu- blicação ocorrem repercussões, reelaborações, interpretações diversas que resultam em tensões, ratificações ou apagamen - tos da força da imagem. Assim, sustentamos a hipótese teórica de que a circulação se constitui como uma relação de atribui- ção de valor (ROSA, 2016b; 2017). Isto é verificável na própria criação dos circuitos, pois apenas as imagens percebidas e to- madas como relevantes passam a permanecer em circulação, o que demonstra que, a cada nova inserção, tais imagens são acrescidas de valor, potencializadas. Em parte, isso explica o porquê de algumas imagens desaparecerem, embora estejam disponíveis para o acesso. Este desaparecimento pode resultar em um dos tipos de imagens-operações que veremos à frente: o resíduo. Em nossa ótica, a força de pregnância de determina- das imagens permite que estas desenvolvam um poder de fixa - ção, quanto mais reinscritas na circulação. No entanto, o que dizer das imagens que deixam de ser inscritas e ainda assim se fazem presentes? Neste caso, temos de voltar nossa aten- ção para a ideia de circulação e não para o produto material, ou seja, a fotografia ou um vídeo. Se recuperarmos a noção de circulação como o trabalho neste espaço de tempo para a produção do sentido, perceberemos que as imagens materiais deixam de ser inscritas 5 quando as imateriais ganham força e adquirem condição de circular como decalques ou emblemas, quando as imagens integram o imaginário e se tornam, assim, autonomizadas. Quando falamos dos atentados ou da guerra na Síria, já preenchemos nossa vista de fotografias e vídeos de crianças, todas um pouco Aylan Kurdi, todas um pouco a crian- ça que fomos, todas um tipo de apelo, geralmente sem a devida contextualização histórico- política em profundidade. A ima- gem nos invade, e neste caso os olhos não piscam, mas também não param. 5 Muitas vezes elas só deixam de ser inscritas após um processo contínuo de apre - sentação, replicação e reelaboração.

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