Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Quando os olhos não piscam nem param: da imagem-operação à ascensão ao fluxo 217 o discurso amador, já que ele se coloca não como alguém que observa afastado, e sim como quem está imerso e, por isso, au- torizado para transformar em imagem o que não é visto; d) suas postagens criam um espaço de interações, mas estas são fruto da diferença do sentido, já que há comentários solidários à dor e outros que questionam o mau uso do Photoshop, portanto, do quesito técnico; e e) o adolescente se transforma em pauta para veículos de comunicação como a CNN e The New York Times , en- tre outros, que chegam ao jovem através das replicações de suas postagens escritas e narradas em inglês, isto é, não feitas para os sírios, mas para catapultar as imagens na circulação. Assim, o adolescente também agencia a circulação. Nesta situação, complexa, percebemos que o objeto em - pírico que constitui nosso campo de observação envolve lógicas de mídia e lógicas de midiatização. No entanto, é no âmbito da mi- diatização que o adolescente ocupa um lugar de fala, já que se vale de estratégias midiáticas (a reprodução do visto no jornalismo, os enquadres de vídeos, a escolha a dedo das falas que remetem a um roteiro prévio) para criar um espaço tentativo de afetamento social e de visibilização. O próprio adolescente assume, em en- trevista para a CNN, que sua motivação principal para relatar o cotidiano reside no fato de que: “As pessoas têm de saber tudo o que está a acontecer na Síria . Eu quero estudar e ser jornalista, quando crescer .” Ao mesmo tempo, em um dos vídeos publicados destaca a banalização da imagem dos conflitos: “A nossa fome, o nosso frio, as nossas fugas tornaram-se ma visão comum. Salvem o nosso povo em Ghouta”. A retórica, ainda que passível de ser questionada quando interesses econômicos e políticos estão em jogo, adere às imagens produzidas e que se transformam em no- vas circulações. A imagem-operação neste caso, em um primei- ro momento, poderia ser considerada a imagem-resíduo ou lixo (figura 06). Aquela que aparentemente não teria condições de ascender aos meios, porque fica submersa no meio de milhares de imagens postadas e publicadas diariamente. No entanto, a imagem-resíduo pode ser alçada à imagem-circuito quando va- lorada na circulação. O Twitter do adolescente tem 25 mil segui - dores e vídeos com mais de 200 mil visualizações. Assim, como os Capacetes Brancos, Najem deixa de ser um amador e é alçado, fagicamente, à categoria de fonte e pauta.

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