Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Ana Paula da Rosa 220 combros após bombardeio na Síria” (G1, 20/02/2018), seja no texto produzido pelo adolescente sírio que clama por um res - gate de dignidade e de visibilidade, ficam evidentes apelos que fazem uso desse operador “resgate”. O resgate é aquilo que salva, que recupera, mas também aquilo que liberta. Quantos resga- tes estão em disputa no caso sírio? Estamos diante do resgate dos feridos, das crianças, do realizado pelos Capacetes Brancos, e consequentemente da própria organização, o resgate de uma vida e da visibilidade, pelo menino sírio. Mas, enfim, o resgate de uma imagem anterior: a infância, a imagem do anjo, logo a imagem-síntese e totêmica. No entanto, podemos nos questio- nar: o que implica a expressão resgate? Resgatar o quê e para onde? Em certa medida nos deparamos com um operador se- mântico que é uma metáfora do vazio; há ali um resgate de um corpo, de uma organização, mas acima de qualquer ação prática o resgate promovido é o da visibilidade. Isto implica dizer que se trata muito mais de retirar as camadas de escombros e fuligem simbólicas do que as físicas, retirar as camadas de apagamentos sócio-históricos para colocar no fluxo da midiatização pessoas, rostos, semblantes que ainda que não representam e passam a figurativizar algo que até então parecia inexistir. Dito de outro modo, o operador resgate visualizado com muita frequência em manchetes produzidas tanto pelo jor- nalismo tradicional como pelos Capacetes Brancos em seu novo fazer (o agenciar a circulação) não é uma palavra forte apenas, mas é uma palavra que resgata imagens-sínteses. Ao pensar nos conflitos da Síria, que se prolongam por décadas, e na crise imi - gratória derivada, há imagens que se relacionam e se fundem em resgates produzidos em nossa memória, entendendo-a aqui não como um baú de coisas vistas, mas como um processo vivo e em constante mobilização. Neste sentido, resgatar imagens-sínteses implica reto- mar as imagens em disputa. Ao longo deste texto identificamos quatro tipos de imagens em jogo como sendo imagens-opera- ções. Tais imagens são operações porque não exemplificam ou mostram algo, mas fazem algo. Dentro desta perspectiva, as ima- gens dos Capacetes Brancos fazem circuitos, produzem inscri- ções e agenciam movimentos de visibilidade, seja dos conflitos, seja da própria organização. Inclusive seu fazer amador-pro-

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