Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

José Luiz Braga 260 • Além disso, embora encontremos sempre, na cul- tura, padrões já estabelecidos, estes padrões foram anteriormente gerados – pelo próprio exercício tentativo da comunicação, sempre que urgências sociais (ou seja: problemas que não dispõem de soluções canônicas) vão gerando arranjos ad hoc para seu enfrentamento. Em síntese: os códigos sociais viabilizam a comunica- ção que se desenvolve em seu âmbito – mas é o processo comu- nicacional, por seus arranjos tentativos, que gera os códigos so- ciais. Os códigos dados (na verdade, anteriormente gerados) são constantemente modificados, não só pelas eventuais mudanças de contexto, mas por seu próprio uso. O que ocorre, atualmente, é que nos encontramos em um momento histórico em que os códigos estabelecidos veem sua pertinência reduzida, e as situações em experimentação ainda não geraram novos códigos suficientemente estáveis nem confiáveis em sua previsibilidade. 5. O que incomoda As redes sociais “tradicionais” – os sistemas de re- lações muito estabelecidos nas práticas sociais que podemos considerar incorporados na cultura e realizados na política, nos sistemas educacionais, nos diferentes campos profissionais, nas instituições da vida privada – são tão diversificadas (entre si e nos processos internos de cada uma) quanto se mostram dife- renciadas as atuais redes digitais e seus processos. Por que um âmbito de diversidades não incomoda, e o espaço recente se mostra intrigante? Provavelmente porque encontramos, na segunda situação, um grau de instabilidade, de existência não consolidada nem “pacificada” por uma prática re - petitiva e pelo discurso da normalidade. Nos sistemas de relações muito estabelecidos, temos “verdadeiros códigos” que indicam essa normalidade e com- põem a referência, tanto para o atendimento como para as es- tratégias de eventual distanciamento do padrão 3 . 3 Ver, nesse aspecto, “Das regras às estratégias” (BOURDIEU, 2004).

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