Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Redes sociais digitais e sistemas de relações 265 tencialidades – dos recursos tecnológicos e das experimentações sociais feitas com estes. O problema macrossocial que se manifesta aí é, por- tanto, este: a sociedade não dispõe de arranjos articulados em interações históricas, no jogo das negociações entre os parti- cipantes sociais, dos acordos, das relações de força existentes, para direcionar com precisão mínima seus processos intera- cionais de qualquer ordem, nas circunstâncias decorrentes da midiatização. Esta é uma questão comunicacional nuclear da contem- poraneidade digital. Seu primeiro aspecto é que, no jogo de rear- ticulações, os sistemas de relações mais estabelecidos não dão conta das urgências como o faziam na situação anterior. As estratégias para a interação, na sociedade, funcionam em contraponto com os desafios e os objetivos. Paralelamente, desenvolvem-se experimentações sociais apenas em parte dire - cionadas pelas lógicas instituídas – as instituições sociais, elas mesmas, mantendo e buscando ajustar suas regras mais ancora- das, são também campo e origem de experimentação. É por isso, aliás, que as visadas institucionais sobre a midiatização não per- mitem apreender o quadro completo – a ênfase na instituição cria um ponto cego para o não instituído. Os códigos que, na contemporaneidade da midiatização, estão na base da interação social e da comunicação humana se evidenciam sobretudo por uma de duas características: ou são códigos incorporados na cultura, mas já não funcionam tão bem na diversidade das circunstâncias, ou são códigos em constru- ção, e ainda não estabilizaram seus procedimentos, sua eficá - cia, suas próprias lógicas. Ainda não elaboraram o discurso que expressa e justifica sua verdade a ponto de poder ser acionado como se fosse sua origem (para essa relação entre lógicas práti- cas e discurso justificador, ver BRAGA, 2018, p. 6). Nessa situação, a questão comunicacional não se limita ao acionamento de códigos e ao trabalho inferencial cotidiano de ajustá-los à singularidade dos episódios. Amplia-se para o processo insistente da construção experimental de códigos que se realiza pelo próprio exercício tentativo, como um trabalho em processo. Isso significa que a comunicação social – e aqui deve - mos enfocar, na midiatização, sobretudo as redes sociais digitais

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