Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Alcance e variações do conceito de midiatização 27 definitivos, em seu livro Antropológica do espelho (2002), esta- belecendo a distinção mediação / midiatização, resgatando o conceito de medium como um objeto teórico e também nomean- do uma nova era, não apenas cultural, mas existencial – o quarto bios . Se mediação significa “fazer ponte ou fazer comunicarem - -se duas partes [...] em decorrência de um poder originário de discriminar, de fazer distinções, portanto de um lugar simbóli- co” (SODRÉ, 2006, p. 20), midiatização compreende “uma ordem de mediações socialmente realizadas – um tipo particular de interação, portanto, a que poderíamos chamar tecnomediações – caracterizadas por uma espécie de prótese tecnológica e mer- cadológica da realidade sensível, denominada medium” ( ibid. ). O conceito de medium ultrapassa o dispositivo técnico – é canalização e ambiência estruturadas com códigos próprios, é “o fluxo comunicacional, acoplado a um dispositivo técnico [...] socialmente produzido pelo mercado capitalista” (SODRÉ, 2002, p. 20). A canalização produzida pelo medium – que não é sim- ples canal – tem potencial de transformação da realidade vivida; é “forma condicionante da experiência vivida, com caracterís - ticas particulares de temporalidade e espacialização, [...] e per- mite hibridações com outras formas vigentes no real-histórico” (SODRÉ, 2006, p. 21). As tecnomediações, as mediações produzidas pelos media , para além de sua dimensão comunicacional e de circula- ção de informações, atuam, desta maneira, na própria constru- ção da realidade: A midiatização implica, assim, uma qualificação par - ticular da vida, um novo modo de presença do sujei- to no mundo ou, pensando-se na qualificação aristo - télica das formas de vida, um bios específico. Em sua ética a Nicômaco, Aristóteles concebe três formas de existência humana ( bios ) na Pólis: bios theoretikos (vida contemplativa), bios politikos (vida política) e bios apolaustikos (vida prazerosa). A midiatização pode ser pensada como um novo bios , uma espécie de quarta esfera existencial, com uma qualificação própria (uma “tecnocultura”), historicamente justi- ficada pelo imperativo de redefinição do espaço pú - blico burguês (SODRÉ, 2006, p. 22).

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