Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Midiatização, comunicação e algoritmos: uma proposta teórico-metodológica... 271 de Palo Alto (WATZLAWICK, 1967). Interessante que essa escola retoma, superando, ao mesmo tempo, os primeiros trabalhos da Escola de Chicago (a comunicação como partilha de experiência e como processo de criação de laços sociais entre participantes de uma comunidade democrática) e as inflexões epistemológi - cas derivadas de programas de pesquisa institucionalizados no período da II Guerra (teoria da informação, cibernética e com- portamentalismo), presentes nos cinco primeiros doutorados da área criados nos EUA entre 1943 e 1952 (PROULX, 2014). Palo Alto faz também uma inflexão em relação às metodologias de análise de conteúdo e quantitativas que não adota como re- ferência (a pesquisa administrativa e funcionalista). Isso nos permite inferir que a pesquisa em midiatização se diferencia da pesquisa administrativa e funcionalista. Certamente, o fato de que Eliseo Verón – como fica cla - ro em seu artigo (VERÓN, 2005) – tenha realizado investigações em Palo Alto explica, em parte, a presença dessa herança. Mas essa ligação é apenas uma delas. Isso também não significa au - sência do pensamento da Europa. Conceitos como dispositivos, campos sociais e espaço público são elaborados de forma mais precisa no cenário europeu 3 . Esses conceitos também perten- cem às interfaces referenciais do objeto sugerido. O fio condutor é o conceito de midiatização como feixe de relações sugerido por interfaces epistemológicas acionadas na construção do objeto. Esse conceito se diferencia de dois ou- tros em vigor no ‘norte’: a) uma abordagem que consideramos ascendente – de construções sociais do midiático – e outra, des- cendente – dos meios à cultura que tende a ver a midiatização como derivada da interação e acomodação dos diferentes cam- pos às lógicas dos meios midiáticos. Chamamos a primeira de ascendente porque considera a midiatização como uma deriva- da, e não um processo específico, fundador de um deslocamento social que se sobrepõe às propensões das construções sociais de sentido viabilizadas pelos usos sociais dos meios; a segunda hi- pervaloriza os meios e suas lógicas, organizados ou instituciona- 3 A isso se somam interfaces com conceitos caros à semiologia e análise do dis- curso francesa, reflexões sobre o estatuto da imagem e imaginários (pesquisa da professora Ana Paula da Rosa, também da Linha de Pesquisa). Essas interfaces, entretanto, não estão problematizadas neste artigo.

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